uma perspectiva evolucionista sobre os meios de conversação da internet
uma perspectiva evolucionista sobre os meios de conversação da internet

3. Evolução

Evolução

Como evoluem os sistemas e os meios de conversação da internet?

Neste capítulo, queremos mostrar que os sistemas e os meios de conversação não surgiram do nada, não surgiram de um ato criacionista, mas sim, são resultados de uma evolução. Com isso queremos defender a perspectiva evolucionista e alertar para que sejam evitados equívocos como nomear o pai de um determinado meio.

Teorias sobre a evolução são propostas em diversas áreas do conhecimento para compreender como os objetos de estudo de cada área se relacionam entre si, e como e por que eles mudam com o tempo. A Biologia é a área de conhecimento que iniciou os estudos sobre a evolução, contudo, principalmente após a publicação das teorias de Darwin sobre a origem das espécies, em 1859, outras áreas como Sociologia (Spencer, 1860), Linguística (Schleicher, 1869) e Design (Steadman, 1979) também propuseram teorias, conceitos e modelos para explicar a evolução em suas áreas.

Origem e evolução dos seres vivos

Todas as espécies de seres vivos descendem de um ancestral comum, sendo as espécies atuais o resultado de uma série de eventos de extinção e origem de novas espécies. Esse processo é gradual; uma espécie não surge instantaneamente. A evolução consiste em mudanças genéticas observadas entre as gerações de uma população. Os principais processos evolutivos responsáveis pela variação genética são a recombinação, a mutação e a seleção natural.

Para compreendermos como evoluem os sistemas computacionais e os meios de conversação, elaboramos neste capítulo um arcabouço teórico do processo evolutivo desses objetos de estudo. Identificamos as funcionalidades dos sistemas como a unidade para análise da evolução; caracterizamos as inovações como as responsáveis pela evolução; e estabelecemos as relações evolutivas entre os sistemas e entre os meios de conversação para ressaltar que não surgiram do nada.

O que evolui: funcionalidades

Funcionalidades são as ações e os comportamentos de um sistema; são as coisas que o sistema faz, as funções do sistema. O usuário percebe as funcionalidades pela interface do sistema. São exemplos de funcionalidades: o envio de mensagem, a notificação do recebimento de mensagem, o registro das mensagens da conversa (log), a lista dos amigos online, a indicação da disponibilidade do usuário, dentre tantas outras.

O que evolui funcionalidades

Enquanto as variações dos seres vivos são observadas no fenótipo, as variações entre sistemas são observadas em termos de interface e funcionalidades. Por exemplo, a funcionalidade de enviar mensagens tem variações entre diferentes sistemas. No sistema Gmail, a área para a digitação de uma nova mensagem ocupa boa parte da tela, é possível anexar arquivos e são disponibilizados recursos para a formatação do texto – essas funcionalidades incentivam a escrita de mensagens longas e elaboradas. Já no microblog Twitter, as mensagens são limitadas a 140 caracteres, a área de digitação é bem reduzida e um contador indica quantos caracteres já foram digitados.

Alguns sistemas se diferenciam dos demais por trazerem em seu projeto alguma inovação, com funcionalidades que não existiam em projetos de sistemas anteriores do mesmo meio. Algumas funcionalidades encontradas em sistemas anteriores são modificadas no novo sistema (ou nova versão de um mesmo sistema) para melhor atender às necessidades dos usuários. As funcionalidades de maior sucesso tendem a ser mantidas ao longo do tempo entre os sistemas que implementam um mesmo meio, enquanto as que não são bem-sucedidas tendem a não ser replicadas em sistemas subsequentes. Reconhecemos, portanto, que a funcionalidade é a unidade para analisar a evolução dos sistemas.

Inovação: mudança responsável pela evolução

Um sistema, seja natural ou artificial, sofre mudanças temporais. Especificamente os sistemas computacionais sofrem mudanças no software, no hardware, e na cultura dos usuários para os quais são destinados.

Teoria Geral dos Sistemas

Um sistema, segundo Bertalanffy (1950), consiste num conjunto de elementos dinamicamente relacionados entre si, em permanente evolução, formando uma atividade para atingir um objetivo, operando sobre entradas (informação, energia, matéria) e fornecendo saídas processadas (informação, energia, matéria). Assim, todo e qualquer sistema possui elementos, relações e objetivos e está inserido em um ambiente, sendo que é a constante interação que define a identidade do sistema como um todo.

A evolução de um determinado meio de conversação é identificada pelas inovações das funcionalidades dos sistemas que implementam aquele meio. As tecnologias mudam em função de inovações, caracterizadas pela realização de novas ideias ou reuso combinado de antigas ideias. Para uma ideia ser considerada inovadora, ela precisa produzir algo novo no mercado, como um produto, serviço ou processo significativamente melhorado. Retomando a analogia com a Biologia, as inovações responsáveis pelas mudanças na evolução das tecnologias equivalem às recombinações e mutações responsáveis pela evolução dos seres vivos.

Recombinações e Mutações: as mudanças evolutivas dos seres vivos

O genótipo é o conjunto de genes do indivíduo, e o fenótipo é o resultado da interação do genótipo com o ambiente e corresponde ao conjunto de características observáveis de um indivíduo, incluindo as anatômicas, fisiológicas, bioquímicas e comportamentais.

O fenótipo possibilita observar as variações entre os seres vivos, decorrentes de mutações ou recombinações dos genes. A maior parte do genoma de uma espécie é idêntica em todos os seus indivíduos. A variação nos fenótipos desses indivíduos reflete, em certa medida, a variação de seus genótipos. A maioria das variações do fenótipo que ocorrem de forma natural nas populações se deve ao processo de recombinação dos genótipos parentais, resultando em novos genótipos, que por sua vez dão origem a novos fenótipos. As mutações correspondem a mudanças mais drásticas, em que são produzidos novos genes.

Uma inovação pode ser evolucionária, revolucionária ou disruptiva (Christensen, 1997). A maior parte das inovações são evolucionárias ou revolucionárias: melhoram incrementalmente a performance de produtos já estabelecidos. As inovações disruptivas são as que mudam de forma radical um produto ou mesmo um mercado existente, sendo poucas as tecnologias consideradas como resultado de uma inovação disruptiva.

Inovações nos sistemas que implementam os meios de conversação ocorrem a partir de possibilidades advindas com a evolução tecnológica e da cultura de uso de outros sistemas. Por exemplo, o desenvolvimento das redes de computadores a partir da década de 1970 tornou possível a comunicação entre usuários remotos em computadores diferentes, o que, por sua vez, promoveu o desenvolvimento de sistemas para a conversação entre muitos usuários por meio de bate-papo e fórum de discussão. Já a cultura de uso dos sistemas que implementaram esses meios influenciou a formação de comunidades cuja evolução resultou nos atuais sistemas de redes sociais como o Facebook. É um processo incremental, evolucionário.

Algumas falsas crenças a respeito de como são originadas as ideias inovadoras reforçam a visão criacionista: de que surgem da mente de um gênio solitário, de repente e a partir do zero. O mito do gênio solitário é provavelmente um dos mais persistentes na história da humanidade e tem sua origem na antiguidade greco-romana, em que se achava que as ideias eram decorrentes de uma inspiração divina, e a criatividade uma característica exclusiva de alguns privilegiados. A consequência desse paradigma é a deturpada imagem de isolamento entre um criador e sua comunidade. A falsa crença de que as ideias inovadoras surgem de repente na mente de uma pessoa foi reforçada por lendas como: o momento eureka!, relacionado à descoberta de um princípio da hidrostática; a maçã, que cai da árvore e dá origem à teoria da gravidade; ou a lâmpada, que aparece de repente sobre a cabeça e dá origem à invenção da lâmpada elétrica. Essas crenças que sustentam a visão criacionista são equivocadas, pois as inovações são fruto de diversas conexões de ideias em um processo colaborativo, influenciado por inovações anteriores. Não ocorre uma criação divina, mas uma transformação contínua; “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.

“Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”

Essa célebre frase é do cientista francês Antoine Lavoisier sobre o princípio da conversão das massas. Neste livro, em relação às tecnologias, evitamos o termo “criação” e adotamos o termo “desenvolvimento” que remete a um processo contínuo e colaborativo de transformação.

As ideias não surgem de repente. Primeiro começam com a percepção de que há algo interessante a ser explorado, e ficam em um estado de incubação por um longo tempo até dar origem a um projeto. Até que uma ideia resulte em um projeto de sucesso são necessários diversos experimentos, com tentativas e erros. O conhecimento acumulado com as experiências e os erros leva ao aprendizado, que possibilitará o desenvolvimento de projetos futuros (Johnson, 2010). Cada novo sistema ou tecnologia introduz novas combinações de ideias que, por sua vez, poderão influenciar projetos futuros; a evolução dos sistemas que implementam meios de conversação é resultado de uma exploração contínua dessas combinações.

Algumas ideias não podem ser colocadas em prática ou serem bem-sucedidas em um dado momento por estarem à frente do seu tempo, por terem dado um salto além das possibilidades tecnológicas ou culturais de sua época. Uma inovação pode levar de 20 a 40 anos entre a ideação e a popularização. Muitas tecnologias foram comercializadas somente décadas depois de sua fase experimental, como exemplificam as exibidas no evento “the mother of all demos”.

A mãe de todas as demos

“The mother of all demos” é o nome da demonstração feita em 1968 por Douglas Engelbart, que apresentou diversas tecnologias, como mouse, videoconferência, teleconferência, hipertexto, processamento de texto, hipermídia, endereçamento de objetos e edição colaborativa.

A equivocada crença de que os sistemas computacionais são criados a partir do zero é reforçada pelas práticas do mercado, que, por problemas de direitos autorais, em geral não explicitam as tecnologias que influenciaram o novo projeto. Para evitar a acusação de plágio e os prejuízos decorrentes de processos jurídicos, o mercado adota um discurso criacionista, como se cada tecnologia fosse criada do nada, ausente de referências a outras anteriores. No desenvolvimento de software, os desenvolvedores priorizam o uso de linguagens como a UML que não oferece suporte para uma modelagem de sistemas baseada em soluções anteriores, reforçando a noção criacionista. Contudo, os desenvolvedores têm uma cultura de uso de outros sistemas que os ajudam a conceber o novo produto. Existem métodos como a análise de domínio e a análise dos concorrentes que, de alguma forma, lidam com a cultura de sistemas existentes visando apoiar o desenvolvimento de novos sistemas. Em nossa perspectiva, uma linguagem para modelagem de sistemas como a UML deveria fornecer notações para explicitar as funcionalidades de outros sistemas que fundamentam e influenciam o projeto do novo sistema.

Relações evolutivas: influências entre sistemas

Uma diferença notável entre a evolução de tecnologias em comparação com os seres vivos está nas relações evolutivas. Na evolução biológica, todos os seres vivos descendem de um ancestral comum e foram se diferenciando ao longo de milhões de anos; as transmissões ocorrem verticalmente no tempo, por heranças genéticas. Já na evolução de tecnologias não há uma origem comum, pois ocorrem múltiplas influências. Como ilustramos na capa desse capítulo, ao se projetar um novo serviço de email, a equipe de desenvolvimento será influenciada pelos vários sistemas que já implementaram aquele mesmo meio de conversação. É claro que os sistemas mais atuais influenciarão mais a equipe; os sistemas mais populares, como o Gmail e o serviço de Mensagens do Facebook, serão referências importantes para o novo sistema que vier a ser projetado.

Herança genética: as relações evolutivas entre os seres vivos

A herança genética é o processo de transmissão do código genético dos progenitores aos seus descendentes. A combinação desse código genético dos progenitores em espécies sexuadas aliada aos erros (mutações) durante sua transmissão é a responsável pela variação biológica, que, sob a ação da seleção natural, possibilita a evolução das espécies.

A evolução das tecnologias é decorrente do design inteligente, do ato de projetar, fruto do racional humano (Steadman, 2008). O projeto das funcionalidades de um novo sistema sofre múltiplas influências, não sendo restrito a um único ancestral. Antes e durante o projeto de um novo sistema, ou de uma nova versão de um sistema existente, a equipe de desenvolvimento entra em contato com diversas informações que influenciam as tomadas de decisão no projeto, como outros sistemas, a cultura de uso desses outros sistemas, novidades tecnológicas e o conhecimento de outras áreas.

Algumas vezes o processo evolutivo dos sistemas é descrito como um processo darwinista:

A Web está evoluindo nesse exato momento e os experimentos acontecem de forma manifesta na internet (…) e todos nós somos cobaias. O resultado é um darwinismo de design muito mais rígido, em que as ideias sucumbem e queimam em público. As melhores ideias de design acabarão sobrevivendo e as ruins cairão, pois os usuários abandonarão os sites mal concebidos (Nielsen, 2000).

Concordamos com essa perspectiva evolucionista, mas discordamos da analogia com o Darwinismo, que é baseado na transmissão genética; consideramos o processo evolutivo dos sistemas mais semelhante com as teorias de Lamarck sobre as características adquiridas pelo uso e desuso.

Darwinismo x Lamarckismo

Segundo Darwin (1859), a evolução dos seres vivos ocorre de forma gradual, com variações na distribuição das características genéticas dos indivíduos, que toda população sofre a cada geração. Os estudos de Mendel (1866), que originaram a genética, demonstraram que a fonte dessas variações é hereditária e levaram a uma melhor compreensão sobre como as espécies se desenvolvem a partir de seus ancestrais. A síntese evolucionista, na década de 1940, combinou as teorias de Darwin com os estudos de Mendel e refutou as teorias rivais, como a de Lamarck (1809) que especula que a evolução seja causada pela mudança gradual dos organismos devido ao uso e ao desuso de um órgão ou à influência direta do ambiente sobre o material genético, sendo as mudanças transmitidas para as gerações seguintes pela herança de características adquiridas.

Na evolução dos sistemas, é a cultura de “uso e desuso” que promove a propagação das funcionalidades em sistemas subsequentes. As funcionalidades dos sistemas mais usados (mais populares) tendem a influenciar o projeto de sistemas posteriores, pois os sistemas que se tornam populares também ficam conhecidos pelos desenvolvedores de novos sistemas, e assim as funcionalidades tendem a aparecer em projetos de sistemas subsequentes. Já os sistemas que poucos usuários conhecem tendem a também ser desconhecidos pelos desenvolvedores e assim suas funcionalidades não influenciam as próximas gerações de sistemas.

Enquanto na evolução biológica ocorre a transmissão de gene pela reprodução, na evolução cultural o que se propaga de pessoa a pessoa é o meme (Dawkins, 1989), que corresponde a uma ideia ou qualquer coisa que possa ser aprendida pelo cérebro humano. Com relação à evolução dos sistemas, as funcionalidades se propagam entre os desenvolvedores em função das experiências com o uso de outros sistemas.

Influências de uso de outros sistemas de email no projeto do Gmail

No projeto da primeira versão do Gmail, em abril de 2004, os desenvolvedores perceberam que alguns usuários estavam cansados das falhas constantes encontradas ao usar os webmails, como o limite baixo de armazenamento e a impossibilidade de encontrar e recuperar mensagens mais antigas. Para solucionar esses problemas, os desenvolvedores da Google ofereceram o armazenamento de 1 gigabyte com crescimento constante e a busca por mensagens.

O projeto do Twitter exemplifica as múltiplas influências no projeto de um novo sistema: a publicação de mensagem centrada no autor é uma adaptação dos serviços de blog; os serviços de SMS pelos celulares influenciaram a funcionalidade de troca de mensagens curtas de texto. A combinação dessas funcionalidades resultou em um sistema inovador, cujo sucesso contribuiu para a consolidação do microblog como um novo meio de conversação. Além das tecnologias, das funcionalidades e da cultura de uso de outros sistemas de conversação, outras áreas de conhecimento também influenciaram o projeto do Twitter.

Influências de tecnologias de outras áreas no projeto do Twitter

Jack Dorsey, um dos desenvolvedores do Twitter, era fascinado pela tecnologia de despacho de veículos em tempo real, utilizada na logística de emergência para ambulâncias, viaturas policiais e caminhões do corpo de bombeiros. As experiências de Dorsey com essas tecnologias influenciaram no desenvolvimento do conceito de atualizações sobre o status pessoal em tempo real no projeto do Twitter.

Outro exemplo de projeto que explicita suas influências é o Google Voice, projetado como uma combinação de funcionalidades de meios de conversação lançados nos últimos 200 anos. Parte das influências está relacionada à evolução do telefone, que por sua vez foi influenciado pelo telégrafo. Outras influências estão relacionadas a outros meios de conversação, como o email e o SMS.

Em alguns casos, a história do desenvolvimento dos sistemas está bem documentada e é possível determinar as influências entre eles. Por exemplo, os primeiros sistemas de email projetados para a rede de computadores ARPANet foram desenvolvidos pela mesma equipe ou por equipes relacionadas. A documentação atualmente disponível possibilita caracterizar as influências entre os sistemas. Por exemplo, o sistema WRD combinou a funcionalidade do SNDMSG de envio de mensagens pela rede, a funcionalidade do READMAIL de leitura de mensagens na rede, a funcionalidade do RD de ordenamento de mensagens por assunto ou data, e da interface com mais usabilidade do NRD. Por sua vez, o WRD inovou ao trazer as funcionalidades de integração do envio e da leitura de mensagens num único sistema, que por sua vez influenciou o sistema MSG desenvolvido em seguida.

Cabe ressaltar que a evolução do suporte influencia muito o desenvolvimento de novas funcionalidades; de forma análoga, na Biologia o isolamento geográfico gera diferentes habitats que promovem a especiação. Por exemplo, o Hotmail foi influenciado pelo desenvolvimento da web, que na época era uma nova plataforma computacional caracterizando-se como um novo “habitat” para o desenvolvimento de sistemas.

Plataforma computacional

Plataformas computacionais constituem ambientes que possibilitam uma infraestrutura para o desenvolvimento de sistemas. São exemplos de plataformas computacionais: as redes de computadores, o desktop, a web, as redes sociais, os smartphones. Cada uma dessas plataformas ampliou as possibilidades de conversação e como consequência promoveu o desenvolvimento de inovações nas funcionalidades dos sistemas.

Resumindo, a evolução dos sistemas que implementam meios de conversação se caracteriza como um processo em que ocorrem múltiplas influências (cada sistema não descende de um ancestral único), com um design inteligente das funcionalidades (em vez de mutações aleatórias), com base no conhecimento humano, nas tecnologias de cada época e, principalmente, na cultura de uso e desuso dos sistemas (e não numa transmissão genética ou do código do software).

Evolução dos meios de conversação

Assim como os sistemas, os meios de conversação também evoluem?

Cada meio de conversação se caracteriza por um modo de conversar específico. Sendo assim, tanto um sistema de email desenvolvido no fim da década de 1960, quanto o contemporâneo serviço de Mensagens do Facebook, disponibilizam funcionalidades para estabelecer a conversação assíncrona entre dois (ou poucos) interlocutores que trocam mensagens de texto elaboradas. Os serviços que implementam um mesmo meio de conversação apresentam um conjunto de funcionalidades em comum para possibilitar o modo específico de conversar daquele meio; contudo, esse conjunto de funcionalidades também evolui ao longo do tempo. Por exemplo, a funcionalidade de encaminhar uma mensagem, que atualmente é encontrada em quase todos os serviços de email, só foi desenvolvida quase uma década após os primeiros sistemas que implementaram esse meio de conversação.

Tal como ocorre com os sistemas, um novo meio de conversação não descende de um ancestral único; o desenvolvimento de um meio de conversação é decorrente de múltiplas influências, não sendo possível representá-las numa sequência como na Árvore da Vida, mas sim em uma rede de influências como a representada na figura a seguir.

Os primeiros meios de conversação implementados em computadores foram influenciados pelos meios de comunicação não-digitais: correio postal, telefone, quadro de avisos, mídia impressa. A partir de meados dos anos 1960 ocorreram as primeiras experiências de conversação pelo computador, influenciadas pelos sistemas de compartilhamento de arquivos e pela tentativa de reproduzir no computador uma comunicação semelhante ao correio postal, com envio de mensagem para um destinatário.

O reconhecimento de um novo meio de conversação não ocorre de imediato. É obtido com o tempo de uso e a popularidade de sistemas que implementam aquele modo de conversar. O blog é um exemplo de um meio de conversação que obteve reconhecimento gradual, sendo reconhecido pela comunidade de desenvolvedores e usuários somente após diversos experimentos em sistemas computacionais.

Blog e seu reconhecimento gradual como meio de conversação

Na década de 1990, os sites na web eram construídos com páginas estáticas, com pouca atualização de conteúdo e total controle por parte do autor do site, que deveria dominar as tecnologias para publicar cada página. Em meados daquela década, alguns usuários passaram a utilizar os sites estáticos como diários pessoais ou jornais, registrando aquilo que acontecia na web. Esses pioneiros tinham como função comentar conteúdos da web e postar links para outras páginas, realizando o papel de filtro de conteúdo sobre determinado tema. Esse registro na web foi apelidado inicialmente de weblog. Alguns autores publicavam listas reunindo links para todos os blogs que conheciam, contribuindo para formar uma comunidade, que posteriormente resultaria na blogosfera.
A abreviatura blog, assim como os primeiros sistemas nomeados desta forma, apareceu somente em 1999 e a partir desse ano ocorreu a popularização desses sistemas. Com a evolução das tecnologias de desenvolvimento, os sites passaram a ter conteúdo dinâmico e possibilitaram que mais pessoas interagissem, publicassem e atualizassem as páginas.
O exemplo do blog mostra o tempo que leva até o reconhecimento de um meio e as diversas influências em seu desenvolvimento: com a web foram desenvolvidos a tecnologia HTML e os navegadores, que possibilitaram a confecção de sites, cuja adaptação resultou nos blogs. Um esforço gradual e colaborativo, característico da evolução tecnológica.

 

 

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