uma perspectiva evolucionista sobre os meios de conversação da internet
uma perspectiva evolucionista sobre os meios de conversação da internet

6. História

História

Aplicação da perspectiva evolucionista para contar uma história dos meios de conversação da internet

Neste capítulo (re)contamos a história de cada meio de conversação a partir da perspectiva evolucionista. O arcabouço conceitual que apresentamos nos capítulos precedentes foi o que norteou as pesquisas que fizemos para contar as histórias.

A taxonomia apresentada no Capítulo 2 foi o que organizou e delimitou as histórias que precisavam ser contadas neste capítulo, pois cada meio de conversação define um ecossistema (Capítulo 5) onde os sistemas competem entre si pelos usuários e, a partir dessa competição, ocorre a evolução. Por isso organizamos e analisamos a história evolutiva dos sistemas de cada meio de conversação em particular, e a relatamos numa seção específica. Em alguns casos preferimos juntar a história de dois meios de conversação numa única seção, quando o desenvolvimento de um meio está muito entremeado ao do outro.

Como discutido no Capítulo 3 sobre Evolução, são as funcionalidades inovadoras dos sistemas que contribuem para a evolução do meio. Por isso contamos uma história enfocando as funcionalidades que foram sendo desenvolvidas ao longo do tempo e que influenciaram o desenvolvimento dos sistemas contemporâneos de cada meio de conversação. Não valorizamos os criadores de cada sistema, pois na perspectiva evolucionista reconhecemos que os sistemas são resultados de anos de evolução tecnológica e cultural até o momento de seu lançamento. Reconhecemos, sim, que alguns sistemas deram contribuições para a evolução do meio ao incluir funcionalidades inovadoras que influenciaram os sistemas subsequentes. Com esse enfoque buscamos mostrar que os sistemas atuais não foram criados do nada, e que nenhum sistema é absolutamente original; todos foram influenciados pelos sistemas precedentes.

Um sistema até pode apresentar funcionalidades inovadoras, mas se o sistema não se tornar conhecido, os desenvolvedores provavelmente desconhecerão aquelas funcionalidades que, consequentemente, não influenciarão a geração seguinte de sistemas. Desta forma contamos a história de cada meio de conversação a partir do levantamento dos sistemas mais populares, os que foram mais influentes em sua época, pois, como discutimos no Capítulo 4 sobre Seleção, além do desenvolvimento técnico, o processo evolutivo é guiado pelas escolhas dos usuários (influência cultural).

Não é trivial identificar os sistemas populares e suas funcionalidades inovadoras, principalmente considerando que os sistemas mais antigos não estão mais em uso e alguns sequer foram experienciados por nós, autores deste livro. Esse tipo de trabalho é dificultado pela escassa informação sobre os sistemas, principalmente os da época em que não havia cobertura da mídia especializada sobre os lançamentos e análises das novas funcionalidades. Em alguns casos tivemos que buscar rastros dos sistemas em livros e artigos, de forma análoga ao do paleontólogo que estuda os fósseis como evidências dos seres que foram vivos em outra época. Sobre a evolução cultural e tecnológica, o especialista é o arqueólogo, que estuda as culturas e os modos de vida de sociedades antigas. Ao realizarmos a pesquisa que apresentamos neste capítulo, nos sentimos como arqueólogos da sociedade digital.

Não temos a pretensão de esgotar as histórias sobre os meios de conversação, e os sistemas que analisamos são os que foram lançados até a data de publicação deste livro. Ao nos arriscarmos a contar essas histórias, ainda que cientes da incompletude, temos por objetivo mostrar a validade e a utilidade da perspectiva evolucionista para analisar os sistemas e serviços de conversação que dão suporte à cibercultura. É certo que, com o passar dos anos, serão reconhecidas novas contribuições na história desses meios de conversação, e até novos meios irão se estabelecer em nossa cultura. Se você está ciente desse fato é porque, assim como nós, já enxerga a história dos meios de conversação a partir da perspectiva evolucionista que discutimos nos capítulos precedentes.

Não há uma linearidade entre as histórias de cada meio. Projetamos este capítulo para você escolher os meios de conversação sobre os quais deseja conhecer um pouco mais:

  • Email (correio eletrônico)
  • Lista de Discussão
  • Fórum de Discussão
  • Mensageiro Instantâneo
  • Bate-papo (chat)
  • SMS (torpedo) e Mensagens em Grupo
  • Blog e Microblog
  • Videochamada e Videoconferência
  • Audiochamada (conversa telefônica) e Audioconferência

Email (correio eletrônico)

O email é um meio de conversação assíncrona entre dois (ou poucos) interlocutores que trocam mensagens de texto elaboradas. Foi desenvolvido a partir da metáfora da troca de cartas realizada pelo correio postal; os desenvolvedores até pediram permissão ao Serviço Postal dos Estados Unidos para utilizar o termo “mail”. A própria forma de redigir as mensagens de email também foi influenciada pela cultura de redação das cartas, pois muito frequentemente numa mensagem de email se faz a saudação ao remetente e, ao terminar a mensagem, se despede e assina como usualmente se faz numa carta tradicional.

Correio Postal

A prática de enviar documentos escritos para pessoas geograficamente distantes provavelmente coincide com a invenção da escrita, entretanto os registros dos primeiros sistemas organizados para o envio de documentos ocorreram no Egito, por volta de 2400 antes de Cristo. O sistema postal moderno foi estabelecido nos séculos XIX e XX com o desenvolvimento dos meios de transporte como ferrovias, navios e aviões que encurtaram o tempo de viagem.

Os sistemas populares que contribuíram com funcionalidades inovadoras que influenciaram o desenvolvimento dos sistemas contemporâneos que implementam esse meio de conversação e estão representados na linha do tempo da evolução do email, apresentada a seguir.

O computador, originalmente projetado para fazer cálculos, foi percebido como uma tecnologia para a conversação já na década de 1960. Os usuários que compartilhavam o mesmo computador mainframe, através do sistema operacional CTSS (Compatible Time-Sharing System), tinham acesso a um diretório compartilhado. Alguns arquivos eram nomeados “ParaFulano” e deixados no diretório compartilhado para que um usuário específico acessasse aquele arquivo em algum momento posterior. Essa prática resultou no desenvolvimento do comando MAIL para o envio de mensagens entre usuários que compartilhavam o mesmo computador, dando início ao desenvolvimento do email.

Comando MAIL (1965)

Possibilitava enviar uma mensagem para um usuário do mesmo mainframe. A mensagem era adicionada a um arquivo que representava a caixa postal do usuário destinatário, que leria a mensagem posteriormente.

No início dos anos 1970, com o lançamento da rede de computadores ARPANet, foram feitas as primeiras experiências com trocas de mensagens entre usuários de computadores remotos. As mensagens eram enviadas para um endereço numérico que identificava o arquivo da caixa postal do usuário. Os remetentes, caso desejassem, acrescentavam um novo texto no final desse arquivo, mas não podiam ler ou escrever por cima do conteúdo existente. Essas funcionalidades de leitura e escrita, bem como diversas outras presentes nos sistemas contemporâneos que implementam o email, foram desenvolvidas em sistemas subsequentes na ARPANet.

Funcionalidades dos sistemas de email na ARPANet

SNDMSG (1972): endereço eletrônico mais significativo do que um número, pois era composto pela identificação do usuário (geralmente o nome) seguido pelo símbolo “@” e a identificação do computador na rede (host).

READMAIL (1972): comando para a leitura de mensagens.

RD (1973): lista de mensagens recebidas, indexada por assunto e data.

WRD (1973): integração, num único sistema, das funcionalidades de envio e de leitura de mensagens.

MSG (1975): resposta e encaminhamento de mensagens; preenchimento automático dos campos de endereço nas respostas às mensagens; ambiente configurável.

MS (1975): múltiplas interfaces com o usuário.

MH (1977): abertura de programas a partir de arquivos anexados às mensagens; organização das mensagens em diretórios.

Outras funcionalidades encontradas em sistemas de email na ARPANet: estruturação do cabeçalho das mensagens: de, para, assunto, cc, responder para, bcc, remetente e identificador da mensagem, identificação do nome do destinatário entre aspas ao lado do endereço de email inserido dentro dos símbolos “< >”, e múltiplos destinatários da mensagem separados pelo símbolo “;”.

Os sistemas de email na ARPANet deram início a uma nova cultura de troca de mensagens, muito mais rápida e informal do que as cartas tradicionais. Muitas pessoas passaram a diminuir ou até mesmo a evitar o uso do correio postal e do telefone para determinadas comunicações. Com a popularização do uso de email em nossa sociedade contemporânea, hoje é raro receber uma carta pelo correio – infelizmente ainda recebemos propagandas e contas a pagar: tudo o que a gente não quer! Os serviços postais de vários países estão em crise.

Nos sistemas de email da ARPANet, as mensagens eram restritas às pessoas conectadas àquela rede. Ao longo da década de 1970 e no início dos anos 1980, foram lançadas diversas outras redes, como UUCP, BITNET e CSnet, contudo havia dificuldades na troca de mensagens entre redes diferentes: era preciso saber em que rede o usuário estava conectado, quais eram as regras e os formatos dos arquivos para a transmissão específicos de cada rede. Para padronizar essa comunicação entre computadores interconectados em diferentes redes, foram definidos protocolos, que são especificações formais para a formatação, integridade e transmissão de dados. A necessidade de comunicação entre redes distintas levou ao desenvolvimento do protocolo TCP/IP, que em 1982 foi formalizado como padrão para a interconexão das redes, influenciando o desenvolvimento da internet. Ao longo da década de 1980, diversas instituições e redes foram conectadas à internet, aumentando o número de pessoas para as quais era possível enviar mensagens.

Protocolo e sistemas para comunicação entre redes diferentes

UUCP (Unix-to-Unix Copy Protocol) (1979): protocolo para armazenar-e-encaminhar mensagens (store-and-foreward). Esse protocolo possibilitou que uma mensagem fosse armazenada em um disco e então encaminhada para os destinatários, modelo que influenciou a comunicação assíncrona típica dos atuais serviços de email.

delivermail (1979): reconhecimento de cada rede pelo formato dos endereços e possibilidade de ter uma lista de apelidos (aliases) para cada endereço eletrônico.

mmdf (1979): envio em duas etapas, sendo cada uma delas feita por um programa: o programa submit colocava cada mensagem em uma fila, relacionada à rede de computador identificada no endereço, e o programa deliver entregava a mensagem ao destinatário.

Também na década de 1980, foi desenvolvido o protocolo SMTP (Simple Mail Transfer Protocol) para o envio de mensagens de email pela internet. Esse protocolo, contudo, não possibilita ao usuário descarregar as mensagens do servidor para o seu computador, sendo então desenvolvidos os protocolos POP e IMAP para a transferência de mensagens.

Sendmail e o protocolo SMTP (1982)

O Sendmail foi o primeiro sistema a implementar o uso do protocolo SMTP, que possibilitou a transmissão de mensagens de email de forma direta entre o servidor do remetente e o servidor do destinatário.

 

Protocolos POP (1984) e IMAP (1986)

POP: possibilitou que as mensagens contidas na caixa postal de um servidor fossem transferidas sequencialmente para um computador local e acessadas pelo sistema de email do usuário. Desta forma o usuário lia, apagava, respondia e armazenava as mensagens sem estar conectado à rede.

IMAP: possibilitou que mais de um computador cliente se conectassem a uma mesma caixa postal localizada em um servidor e possibilitou ao usuário gerenciar as mensagens em sua caixa postal no servidor.

Foi o desenvolvimento dos computadores pessoais e dos sistemas operacionais com interface gráfica na década de 1980 que possibilitou o uso doméstico dos computadores, aumentando o número de usuários. Antes, os computadores eram restritos a universidades, instituições militares e governamentais, laboratórios de pesquisa ou grandes bancos e empresas que podiam pagar o alto valor de um computador mainframe, que por sua vez tinha seu uso restrito a técnicos e especialistas que conheciam os comandos do sistema operacional. Para atender ao novo público de usuários de computadores pessoais, foram desenvolvidos sistemas clientes de email com interfaces gráficas. Esse novo mercado deu início a uma competição acirrada até a década de 1990. Dentre os clientes de email daquela época, destacaram-se o Eudora, IBM Lotus Notes, Outlook, dentre outros. A coexistência de alguns sistemas competidores, em vez de um único dominante, ocorreu graças aos protocolos que possibilitavam a troca de mensagens de email mesmo entre sistemas clientes diferentes; além da existência de nichos específicos: um sistema cliente de email era mais popular no sistema operacional Windows, enquanto outro era mais popular entre os usuários de Linux.

Propostas para envio de conteúdo multimídia em sistemas de email já existiam desde o final dos anos 1970. Uma dessas propostas era adotar o formato ASCII para a codificação dos arquivos multimídia, o que se tornou um padrão. Contudo, ainda havia poucos formatos de arquivos digitais de imagem e som, além da dificuldade de anexar às mensagens e extrair esses arquivos. O Eudora conseguiu superar esses desafios técnicos.

Eudora (1988)

O Eudora se tornou um dos sistemas de email mais utilizados no final dos anos 1980 e na década de 1990, chegando a mais de 20 milhões de usuários. Uma funcionalidade do Eudora que contribuiu para sua popularidade foi a capacidade de anexar documentos às mensagens. Além de possuir uma interface gráfica, esse sistema adotava outras inovações lançadas na década de 1980, como os protocolos SMTP e POP3.

A web, desenvolvida no início dos anos 1990, liberou o usuário da necessidade de instalar os sistemas em seu computador pessoal desktop. Essa característica dos sistemas ficarem disponíveis num endereço web e acessíveis por qualquer navegador em qualquer computador promoveu o desenvolvimento de diversos serviços de email baseados na web, dando início a uma nova era de competição que perdura até hoje – uma competição ainda mais acirrada pelo fato desses serviços serem independentes dos computadores e dos sistemas operacionais. Dessa disputa, o Hotmail foi um dos primeiros sistemas a se tornar amplamente popular, lançado no início de 1996, pouco tempo depois do Webex.

Webex (1995) e Hotmail (1996)

O Webex era acessado pelo usuário através do navegador web e possibilitava a inclusão de HTML nas mensagens. Embora tenha sido lançado como software gratuito, logo foi desenvolvida uma versão comercial. O sistema teve seu nome alterado para EMUmail e foi uma das primeiras aplicações na web a adotar uma versão gratuita contendo anúncios e uma versão paga sem anúncios, modelo comercial adotado posteriormente por inúmeras aplicações na web.

O Hotmail se popularizou muito rapidamente, alcançou milhões de usuários. O sistema foi adquirido pela Microsoft em 1997, e alguns meses depois a base de usuários do Hotmail já havia mais do que dobrado, encontrava-se com 22 milhões de contas ativas. A história das funcionalidades desse sistema encontra-se bem documentada na Wikipedia http://pt.wikipedia.org/wiki/Microsoft_Hotmail.

No início dos anos 2000 foram desenvolvidas tecnologias que possibilitaram o desenvolvimento de sistemas na web com interação semelhante a de sistemas desktop, as denominadas Aplicações de internet Rica (RIA – Rich internet Application). Dentre essas tecnologias, destaca-se o AJAX (Asynchronous JavaScript and XML), em que o usuário passa a realizar as atividades em uma mesma tela sem ser necessário a troca ou o recarregamento da página web a cada interação (antes era necessário navegar por diversas páginas para realizar uma ação, o que requer algumas trocas de contexto e mais tempo para completar uma atividade). Essa nova tecnologia de atualização de páginas web, que deu início ao desenvolvimento da web 2.0, propiciou a integração de diversos meios de conversação numa mesma tela, como exemplifica a atual interface do Facebook.

Até meados dos anos 2000, os webmails restringiam o limite de espaço de armazenamento de mensagens entre 2 e 4 megabytes; mas mensagens com imagens em anexo (que se tornaram mais comuns com a popularização das câmeras digitais a partir da segunda metade da década de 1990) ocupam muito mais espaço do que mensagens apenas textuais, e com o pouco espaço de armazenamento disponibilizado nos webmails o usuário precisava vigiar sua caixa postal para não ultrapassar o limite e ser impedido de receber novas mensagens. O sistema Gmail, lançado em 2004, impactou o mercado por oferecer uma interface rica e espaço de armazenamento de 1 gigabyte.

Gmail (2004)

Lançado pela empresa Google, o Gmail, além de oferecer um espaço de armazenamento inicial de 1 gigabyte, apresentou algumas funcionalidades inovadoras para a sua época. O sistema foi um dos primeiros webmails desenvolvidos com AJAX, integrando também em sua interface um serviço de mensageiro instantâneo. Tornou central em sua interface a funcionalidade de busca (que é a especialidade da empresa Google) com o objetivo de incentivar os usuários a buscarem a mensagem somente quando fosse necessária em vez de gastar tempo organizando as mensagens em pastas, como era praticado até então. Também passou a apresentar todo o histórico de mensagens trocadas até a mensagem que está sendo lida, tornando o contexto da conversação mais facilmente recuperável.

A popularização dos smartphones promoveu uma nova plataforma para aplicativos de email. Uma funcionalidade inovadora introduzida com esses equipamentos é o alerta de recebimento de nova mensagem de email, e como o usuário frequentemente está o tempo todo com seu smartphone, a percepção da chegada de novas mensagens se tornou mais imediata, o que incentiva a elaboração mais imediata de respostas, promovendo assim um encurtamento do tempo de interação dessa conversação assíncrona.

Os sistemas de redes sociais também frequentemente disponibilizam algum serviço de email. Uma novidade introduzida com esses sistemas, como implementado no serviço Mensagens do Facebook, é que as mensagens passaram a ser organizadas em função das pessoas e não pelo assunto. Outra novidade é que, com a integração dos vários meios de conversação, vem sendo promovido o intercâmbio entre os meios.

Mensagens do Facebook (2010)

O Facebook integra vários meios de conversação e promove o intercâmbio entre esses meios. Por exemplo, após enviar uma mensagem de email pelo serviço Mensagens, se o destinatário da mensagem estiver conectado e responder a mensagem naquele momento, o Facebook abre a janela de mensageiro instantâneo entre os interlocutores sugerindo, assim, o uso desse outro serviço projetado para a interação síncrona.

Análise da evolução do email

Para possibilitar a conversa por email, foi necessário atender a alguns objetivos específicos que direcionaram a evolução desse meio:

Identificação do usuário: Em um meio de conversação assíncrono para troca de mensagens particulares, como ocorre no email, o interlocutor deve ser identificado com um endereço para que as mensagens cheguem ao seu destino. Nas primeiras soluções desenvolvidas para os sistemas CTSS, com troca de mensagens entre usuários de um mesmo computador, a solução foi nomear o arquivo da mensagem com o nome do destinatário. A solução hoje empregada, o endereço eletrônico, foi implementada no sistema SNDMSG na rede ARPANet. Além da identificação pelo endereço, os sistemas na ARPANet passaram a incluir campos para remetente e destinatário junto à mensagem, influenciados pelas informações contidas nos envelopes das cartas de correio postal.

Elaboração da mensagem: Cartas costumam ser elaboradas e, em alguns casos, como o cartão postal, contêm imagens em anexo. Na evolução do email, como adaptação do correio postal para a conversação pela computação, aos poucos foram acrescentadas funcionalidades para possibilitar a elaboração do texto, como ferramentas para formatação e anexo de documentos, imagens e vídeos.

Acesso à mensagem em um momento posterior: Sendo um meio voltado para a conversa assíncrona, o email não deve exigir dos interlocutores estarem conectados para acessar suas mensagens. Esse problema foi resolvido pela adoção do protocolo POP, que possibilita a cada usuário ler, responder e gerenciar sua correspondência em uma caixa postal exclusiva sem precisar estar conectado, acarretando a redução de custos de conexão e incentivando a popularização desse meio de conversação.

Agilizar o tempo de resposta: Pelo email ser um meio assíncrono, o tempo esperado de resposta é de horas ou até mesmo dias. Para diminuir esse tempo foram desenvolvidas funcionalidades para alertar quando chega uma nova mensagem. Essa funcionalidade, também presente em sistemas para desktop, é muito utilizada em sistemas para smartphones, inclusive em outros meios de conversação, como mensageiro instantâneo e SMS.

Facilitar para o usuário encontrar as mensagens que deseja: Um usuário pode receber até centenas de mensagens por dia, incluindo as indesejadas, como os spams. Para facilitar a organização e a procura por uma determinada mensagem, foram desenvolvidos ao longo do tempo sistemas de classificação por pastas, filtros e sistema de busca e organização das mensagens dentro de uma mesma conversa.

Com a popularização do email e o abandono crescente das cartas como meio de correspondência, ter um endereço de email passou a ser uma necessidade, até mesmo para se cadastrar em diversos sites. Nos anos 1990 e até meados dos anos 2000, o email era utilizado para diversos fins, como envio de vídeos, imagens e mensagens informais entre conhecidos. Com a popularização das redes sociais, sistemas de compartilhamento de vídeo, como o YouTube, e de outros meios de conversação, como SMS e mensageiro instantâneo, o email é cada vez mais direcionado para assuntos relacionados ao trabalho e conversas particulares.

Com a evolução dos sistemas que implementam o email, está ocorrendo uma mudança cultural na troca desse tipo de mensagem. Por exemplo, algumas mensagens de email agora são redigidas sem a abertura e o fechamento típicos das tradicionais cartas que influenciaram o desenvolvimento inicial desse meio de conversação. Em parte essa prática é uma influência da cultura de informalidade que ocorre em outros meios de conversação, como nos mensageiros instantâneos, mas também é apoiada pela funcionalidade do histórico da conversação ser apresentado junto com a nova mensagem, dando a impressão de uma conversa sem fim, sendo por isso desnecessário cumprimentar e se despedir sempre a cada mensagem. Mais recentemente alguns usuários estão optando por cortar a transcrição automática do texto da mensagem anterior, pois a transcrição se torna despropositada dada a facilidade de recuperação do histórico da conversação.

Lista de Discussão

A lista de discussão é um meio de conversação assíncrona para a discussão entre muitos interlocutores que enviam mensagens de texto elaboradas, organizadas em lista. Do ponto de vista do usuário, a lista de discussão é um endereço de correio eletrônico para o qual se envia uma mensagem que é redistribuída para todos os membros cadastrados naquela lista. Geralmente uma lista de discussão reúne pessoas interessadas num determinado assunto.

Os sistemas populares que contribuíram com funcionalidades inovadoras e influenciaram o desenvolvimento dos sistemas contemporâneos que implementam esse meio de conversação estão representados na linha do tempo da evolução da lista de discussão, apresentada a seguir.

A lista de discussão foi desenvolvida como uma adaptação do uso do email para discussão em grupo na ARPANet, com base no programa SNDMSG, lançado em 1972. A partir de 1975, diversas listas foram lançadas, sendo algumas das mais populares: MsgGroup, sobre o uso do email; human-nets, sobre fatores humanos; network-hackers, sobre programação; sf-lovers, sobre ficção científica; e wine-tasters, voltada para conhecedores de vinhos.

As listas de discussão da ARPANet se tornaram muito populares no final dos anos 1970 e inspiraram iniciativas similares em outras redes, como na USENET. Assim como outros serviços da ARPANet, as listas de discussão eram de uso restrito, por isso os desenvolvedores da USENET lançaram gateways para possibilitar o acesso às listas para um público mais amplo. As listas da ARPANet se diferenciavam da USENET por terem um controle central que filtrava quem recebia cada conteúdo e qual conteúdo seria transmitido.

Outra iniciativa fora da ARPANet foi o desenvolvimento da LISTSERV, uma lista de discussão automatizada.

LISTSERV (1986)

Em busca de uma solução para melhorar as condições de acesso de estudantes de universidades francesas a equipamentos mais modernos, Eric Thomas conseguiu acesso a um sistema do BITNIC, o centro de informações da rede acadêmica BITNET. O BITNIC tinha desenvolvido um programa para implementar listas de email. Para se inscrever na lista era preciso enviar uma mensagem para INFO@BITNIC e aguardar que o responsável inserisse o endereço eletrônico do requerente em um arquivo com o endereço de todos os inscritos. Mesmo após a inscrição, era necessária a ação do responsável para enviar uma cópia de cada mensagem que recebeu para os demais membros da lista. A denominação LISTSERV era referente à conta a partir da qual as mensagens eram enviadas para os membros.
Havia diversas listas sobre diversos assuntos, contudo, para saber de qual lista vinham as mensagens recebidas, era preciso abrir e ler cada uma. Com o tempo, a quantidade de mensagens e requisições de inscrição aumentou tanto que a operação manual passou a levar dias ou meses para inscrever ou remover um membro da lista. Com essa quantidade de mensagens e informações para ler e gerenciar, o uso das contas particulares de email ficou inviável. Para solucionar esses problemas, Eric desenvolveu em 1986 uma aplicação para automatizar o gerenciamento das listas, baseada em um modelo distribuído, denominada Revised LISTSERV.
A nova versão de LISTSERV possibilitou enviar comandos para que cada membro pudesse se inscrever ou ser removido das listas sem a intermediação de um responsável único que centraliza os processos. A moderação passava para o proprietário da lista que, além de coordenar a entrada e saída de membros, customizava as mensagens do sistema. Revised LISTSERV passou a ser denominado LISTSERV a partir de 1989. Em 1994, LISTSERV foi lançado na internet como um produto comercial, para atender a um público mais amplo em diversas plataformas, como Unix, Windows e Macintosh.

LISTSERV inspirou o projeto dos sistemas de gerenciamento automático de listas de discussão subsequentes, como o Listproc, desenvolvido para Unix em 1992 e nomeado em suas primeiras versões como Unix Listserver. Em 1992, LISTSERV ainda era restrito à BITNET, mas serviu de modelo para o projeto do Majordomo, um sistema de lista de discussão para internet. Ao longo do desenvolvimento de novas versões, Majordomo passou a ser distribuído como software livre.

Com o lançamento da web, as listas de discussão foram integradas a grupos de discussão, como o Yahoo Groups e Google Groups, cujo projeto foi baseado no serviço Deja News, lançado em 1995.

Yahoo Groups (1998) e Google Groups (2001)

Esses grupos incorporaram funcionalidades como busca por mensagens e visualização das mensagens do grupo de duas formas: como uma lista de discussão, recebida na conta de email de cada membro, ou como fórum, visualizada no próprio site do grupo. Outros recursos dos grupos, como perfil dos usuários, repositório compartilhado de arquivos e sistema de bate-papo caracterizam esses sites como precursores das redes sociais.

Análise da evolução da lista de discussão

Para possibilitar a conversa pela lista de discussão, foi necessário atender a alguns objetivos específicos que direcionaram a evolução desse meio:

Enviar cada mensagem para todos os membros da lista: Para possibilitar a conversação num grupo de pessoas, os desenvolvedores adaptaram o serviço de email para que uma mensagem enviada para um endereço eletrônico fosse reenviada para cada pessoa da lista.

Facilitar a moderação: A lista é um meio voltado para a discussão. Como nas discussões é comum a ocorrência de troca de ofensas entre os participantes e o envio de mensagens fora do tema da lista ou do grupo, os desenvolvedores dos sistemas de discussão precisaram desenvolver formas de administrar as listas, dando aos moderadores funcionalidades como exclusão de membros e inclusão de outros moderadores. Por outro lado, desenvolvedores de sistemas como LISTSERV procuraram facilitar a inclusão e exclusão de membros, dando aos moderadores a opção de permitir que os membros possam se inscrever automaticamente.

Integrar com o fórum de discussão: A partir do advento da web, as listas foram integradas em sistemas de grupos de discussão, como Yahoo Groups e Google Groups. Os membros dos grupos formados nesses sistemas consultam e respondem as mensagens tanto pelo site quanto pela conta de email.

Fórum de Discussão

O fórum de discussão é um meio de conversação assíncrona para a discussão entre muitos interlocutores que trocam mensagens de texto elaboradas, organizadas em tópicos. Assemelha-se à lista de discussão por ambos serem voltados para a discussão assíncrona entre muitas pessoas, mas enquanto na lista as mensagens são organizadas em lista (cronologicamente), no fórum as mensagens são organizadas em tópicos (hierarquicamente).

Os sistemas populares que contribuíram com funcionalidades inovadoras e influenciaram o desenvolvimento dos sistemas contemporâneos que implementam esse meio de conversação estão representados na linha do tempo da evolução do fórum de discussão, apresentada a seguir.

O fórum de discussão foi desenvolvido na década de 1970 para possibilitar que grupos de pessoas separadas, tanto no espaço quanto no tempo, pudessem conversar pela rede de computadores. Outras influências no desenvolvimento do fórum foi o quadro de avisos (bulletin board) e uma experiência realizada no final dos anos 1940 conectando máquinas de telex.

Quadro de avisos (bulletin boards)

Utilizados na parede de escolas, supermercados e outros espaços públicos para que as pessoas possam publicar notas, avisos, anúncios e outras informações de interesse da comunidade.

 

Máquinas de telex conectadas

O conceito de um meio para conversação assíncrona em grupo já existia desde 1948, como forma de possibilitar a comunicação para o envio de suprimentos para Berlin ocidental pelos aliados no início da Guerra Fria com a União Soviética. A tentativa de conectar máquinas de telex de diversos países resultou em fracasso relacionado à dificuldade das pessoas se comunicarem ao mesmo tempo em diversas línguas.

No início dos anos 1970, três projetos independentes desenvolveram soluções para comunicação assíncrona em grupo: EMISARI, PLATO Notes e FORUM / PLANET. Estes sistemas inspiraram projetos subsequentes, como o CONFER, lançado em 1975, e o Group Notes, lançado em 1976. No mesmo ano de 1976, foi lançado o EIES, uma dos pioneiros no suporte a comunidades de prática online.

EMISARI (1971)

O EMISARI foi lançado em 1971 a partir de uma solução para o gerenciamento de uma crise gerada pelo congelamento de preços e salários, que requeria lidar com uma grande quantidade de informações. O desenvolvedor do sistema, Murray Turoff, já tinha feito experiências com o Método Delphi, que consiste na circulação de questionários e respostas entre uma comunidade de especialistas, a fim de obter decisões coletivas sobre situações complexas. Turoff considerou que esse processo poderia ser utilizado em computadores, a partir da rede da ARPANet. O Sistema de Conferência Delphi possibilitava a cada usuário deixar uma mensagem para os demais em uma espécie de mural ou quadro negro digital. Após deixar a mensagem, um usuário verificava posteriormente se outro usuário havia deixado uma anotação como resposta.

Outra funcionalidade do EMISARI era a capacidade de capturar mensagens de determinados tópicos mesmo sem conhecer os remetentes dessas mensagens. Bastava ao usuário escolher os temas de interesse e o sistema enviava todas as mensagens desses temas para a sua caixa de entrada de email. O usuário não precisava conhecer o endereço dos demais. O título da mensagem é que relacionava os usuários com interesses em comum. Com funcionalidades como essa foi possível formar comunidades de interesse e os sistemas de fórum obtiveram sucesso imediato entre a comunidade da ARPANet. O Sistema Delphi evoluiu para o EMISARI, que por sua vez evoluiu para o RIMS (Resource Interruption Monitoring System).

 

PLATO Notes (1973)

Em 1973 foi lançado o PLATO Notes, outro projeto de um meio de conversação assíncrona entre interlocutores. Notes era um dos serviços de conversação do sistema PLATO, que também possuía serviço de email, mensageiro instantâneo e bate-papo, além de jogos online. O Notes inicialmente possibilitava adicionar respostas sobre uma nota, como num quadro de avisos (bulletin boards), para notificar problemas do sistema, e em seguida foi estendido para possibilitar uma conversa sobre um tópico qualquer. Embora o PLATO tenha sido desenvolvido para ser usado na educação, acabou sendo utilizado também como meio de conversação genérico. Enquanto o EMISARI tinha seu uso voltado para atender o gerenciamento de crises por um grupo específico de usuários, o PLATO Notes era mais acessível, e esta característica o tornou uma base para comunidades online com milhares de usuários. O PLATO Notes gerou diversas versões, algumas existentes até o presente momento, e influenciou diversos outros sistemas de fórum: Group Notes, Lotus Notes, DEC Notes, NetNotes/WebNotes, COCONET e Notesfiles.

 

FORUM / PLANET (1973)

Um projeto semelhante ao EMISARI foi desenvolvido pela equipe do Institute for the Future, o FORUM, que logo evoluiu para o PLANET (Planning Network), em 1973. Assim como o EMISARI, o sistema PLANET tinha serviço de email, ambiente compartilhado para anotações, serviço de conferência para comunicação online e offline e um quadro de avisos. Tanto o FORUM quanto o PLANET e seu sucessor, o TOPICS, tinham funcionalidades que visavam facilitar a utilização por usuários com pouca experiência com computadores. Dentre as funcionalidades estavam um menu que mostrava ao usuário suas opções a cada etapa de sua atividade, e uma lista de instruções que variava de acordo com o nível de experiência de cada usuário. O PLANET evoluiu para o Notepad, um sistema de conferência utilizado por grandes empresas.

 

CONFER (1975)

CONFER, lançado em 1975, era um sistema pelo qual um participante de um grupo poderia ser tanto um consumidor quanto um produtor de informações. Em sua primeira versão, o sistema continha uma funcionalidade que possibilitava expressar uma opinião sobre uma afirmação através do voto. No início os usuários do CONFER eram limitados a estudantes de faculdades, que possuíam contas de acesso a computadores da época. A estrutura do CONFER se tornou um padrão seguido pelos sistemas de fórum. Qualquer usuário poderia iniciar uma discussão postando um tópico e, ao final da mensagem, os demais usuários anexavam suas respostas. O sistema possibilitava ao usuário verificar as respostas que ainda não tinham sido lidas. Também disponibilizava algumas áreas de conferências para tópicos separados. Os sistemas PicoSpan e Caucus, influenciados diretamente pelo CONFER, já possibilitavam um número maior de conferências.

 

Group Notes (1976)

O Group Notes foi lançado em 1976 e estendia a capacidade de envio do PLATO Notes para um número ilimitado de notas e possibilitava salvar arquivos com notas para uso do grupo. As notas eram distribuídas entre muitos arquivos, o que resolvia o problema técnico de lidar com grandes volumes de informação em um único arquivo e dispensava o trabalho da equipe de desenvolvimento de gerenciar essas informações. As notas eram organizadas por assunto e era possível verificar todas as respostas escritas a partir de determinada data e horário. Outra funcionalidade do Group Notes era o controle de acesso para indivíduos a cada nota, definido pelo próprio autor da nota.

 

EIES – Eletronic Information Exchange System (1976)

Sistema que pretendia ser um ambiente para troca de mensagens de texto num grupo de pessoas. Dentre as funcionalidades do EIES estavam funcionalidades de composição, edição, envio, busca, revisão, aprovação, avaliação e organização de informações em texto, tais como mensagens particulares, anotações pessoais, mensagens em conferência e quadro de avisos, composto por relatos, notícias e afirmações. O EIES não se limitou ao uso pela comunidade científica e foi adotado também por planejadores, artistas e outros grupos de usuários.

As implementações de fórum de discussão em sistemas como PLATO Notes, EIES e CONFER são consideradas centralizadas, projetadas para discussões em grupo armazenadas em um computador central, com cada mensagem enviada sendo imediatamente inserida em um lugar específico na estrutura da discussão, funcionalidade influenciada pela inserção de notas em quadros de avisos. O quadro de avisos inspirou também o nome de outro tipo de sistema de discussão em grupo, o BBS (Bulletin Board System). Um dos BBS mais famosos foi a comunidade The Well (Whole Earth Letronic Link), lançada em 1985, que deu origem à denominação comunidade virtual.

BBS (1978)

Oferecia funcionalidades como compartilhamento de arquivos e programas, leitura de notícias e avisos e troca de mensagens por ferramentas de email, fóruns e bate-papo. Para usar um BBS o usuário precisava se conectar ao sistema ao ligar pela linha telefônica para o computador onde estava instalado o servidor de BBS. O primeiro BBS público com conexão discada por meio de modem foi lançado em 1978, embora já houvesse uma experiência semelhante com o Community Memory, lançado em 1973, que dispunha de terminais de acesso público para envio e consulta de mensagens, mas essa solução era experimental e não utilizava linhas discadas.
Após o primeiro BBS, foram desenvolvidos centenas de outros sistemas desse tipo, para diversas plataformas e em diversas linguagens de programação, que eram configurados pelos operadores (Sysops) em suas casas. A popularização dos BBS ocorreu durante a década de 1980 e início dos anos 1990, principalmente após o crescimento do uso do computador pessoal e da internet. Em 1993, somente nos Estados Unidos, havia 60.000 grupos de BBS. No início, a maior parte dos BBS era operada como um sistema único, contudo, com a popularização, foram desenvolvidas as redes de BBS, que trabalhavam com múltiplas linhas telefônicas, sendo a maior a Fidonet. Com o advento de outros meios de conversação, a partir da popularização da web em meados dos anos 1990, a popularidade dos BBS decaiu.

 

The Well (1985)

O objetivo dos desenvolvedores era juntar um grupo de pessoas interessantes, fornecer a elas os meios para se comunicarem entre si de forma contínua, e aguardar para ver o que aconteceria. Os primeiros usuários eram especialistas em diversas áreas, associados à Whole Earth Magazine, revista publicada pelo mesmo grupo responsável pela comunidade. Esses especialistas, que incluíam cientistas, artistas e jornalistas, formaram diversos grupos de interesses, que eram públicos ou particulares, de acordo com o desejo dos moderadores. Ao contrário de outros sistemas de conversação públicos, The Well proibia o anonimato e delegava a cada usuário a responsabilidade por sua conduta na comunidade. O estímulo para que os usuários mostrassem sua verdadeira personalidade também tinha como intenção aumentar a confiança entre os membros da comunidade para promover encontros presenciais. The Well foi considerada a comunidade online mais influente do mundo e influenciou diversas características das redes sociais.

Além dos BBS, no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, muitos desenvolvedores buscavam soluções de sistemas para a comunicação entre diversas redes, principalmente após o advento da internet. Uma dessas soluções foi a USENET, lançada em 1979.

USENET (1979)

Utilizava a tecnologia peer-to-peer e inicialmente foi desenvolvida para compartilhar arquivos entre usuários da comunidade UNIX de diversas redes ao redor do mundo, como ARPANet e UUCP, e evoluiu para se tornar uma ferramenta para conversação em grupo. A USENET consistia em milhares de repositórios, chamados de newsgroups, focados em tópicos de interesse. Qualquer pessoa com acesso à USENET por linha telefônica poderia publicar uma mensagem, ler e responder as mensagens dos demais usuários de um newsgroup. A conexão aos servidores da USENET era feita por meio de um newsreader, aplicativo instalado no computador do usuário pelo qual enviava mensagens e escolhia os newsgroups e as mensagens que desejava ler.

Nos anos 1980, com o crescente uso dos computadores pessoais e lançamento de sistemas com interface gráfica, foram desenvolvidas diversas soluções para comunicação voltadas para um público mais amplo, muitas delas comerciais. Uma dessas soluções foi o Lotus Notes, que dentre os muitos sistemas influenciados pelo PLATO Notes e pelo Group Notes, foi um dos mais bem-sucedidos.

Lotus Notes (1984)

A proposta do Lotus Notes era ser utilizado para organização pessoal. Depois o sistema passou a ser utilizado como groupware, para possibilitar comunicação, coordenação e cooperação entre um grupo de pessoas utilizando a arquitetura cliente/servidor em uma rede. O projeto do sistema levou muitos anos, desde a concepção em 1984, até o produto ser aceito e comprado pela Lotus em 1987 e lançado em 1989. A primeira versão do sistema já continha serviços de conversação como email e fórum de discussão, além de agenda de contatos. Na década de 1990, o Lotus Notes alcançou mais sucesso entre as empresas e evoluiu para se integrar com a web e implementar os diversos meios de conversação, como áudio e videoconferência, blog e mensageiro instantâneo.

No início dos anos 1990, os BBS, a USENET e os sistemas de lista de discussão, como a LISTSERV, eram os serviços mais populares de conversação assíncrona entre vários interlocutores. Com a web, os fóruns alcançaram um público ainda maior e incorporaram funcionalidades como uso de imagens, áudio, vídeo e HTML nas mensagens.

Fóruns na web (meados dos anos 90)

Em um fórum na web, as discussões são consultadas em índices que são subdivididos em diversas páginas, desde os assuntos mais gerais até as discussões específicas. Os fóruns baseados na web são integrados a sites e outras aplicações.

Um dos primeiros projetos de fórum para a web foi o WIT, do W3C, em 1994. Contudo, um dos sistemas que mais se destacou pela popularidade e assim passou a influenciar projetos subsequentes foi o UBB (Ultimate Bulletin Board), lançado em 1996. O UBB influenciou desde sistemas comerciais, como o vBulletin, até sistemas baseados em software livre, como o phpBB. Ambos os sistemas foram lançados entre os anos de 1999 a 2002, época com a maior quantidade de lançamentos de sistemas de fórum.

A partir de meados dos anos 2000, com a popularidade das mídias sociais, mais especificamente dos sistemas de redes sociais como Orkut, MySpace e Facebook, os fóruns passaram a ser integrados como serviços a esses sistemas, em comunidades ou grupos, junto com outros meios de conversação. Ao invés de usar identidades anônimas para discutir assuntos de interesse com desconhecidos, os usuários de fóruns em redes e mídias sociais usam um perfil que reflete sua identidade real.

Análise da evolução do fórum de discussão

Para possibilitar a conversa pelo fórum de discussão, foi necessário atender a alguns objetivos específicos que direcionaram a evolução desse meio:

Possibilitar a conversação assíncrona entre um grupo de pessoas: os sistemas de conversação assíncrona voltados para discussões em grupo contribuíram para a formação de comunidades de interesse em comum. No fórum, ao contrário do email, as mensagens são publicadas para todos os membros em um espaço comum. Por ser um espaço comum, de fácil acesso, os desenvolvedores implementaram funcionalidades para controlar esse acesso e a inscrição dos membros, assim como ocorre na lista de discussão.

Organizar mensagens em uma estrutura de tópicos: Organizadas em temas de interesse, as comunidades precisavam de uma estrutura que suportasse a publicação de tópicos dentro de um sistema de classificação hierárquico para facilitar a consulta. A estrutura do fórum foi desenvolvida ao longo do tempo para a realização de debates, inclusive dentro de um mesmo tópico, com a visualização do encadeamento de respostas às mensagens. Essa característica foi influenciada pelos quadros de aviso, nos quais as pessoas pregam notas em cima de outras como respostas.

Possibilitar que qualquer membro inicie uma conversa: A relação entre os interlocutores em um fórum de discussão é de todos para todos. A todo momento um membro de uma comunidade pode iniciar uma discussão através do envio de uma mensagem.

Com a facilidade da navegação por hipertexto na web, os fóruns puderam ser desenvolvidos para dar suporte a uma grande estrutura de tópicos, dividida em diversos níveis. Sistemas especializados foram lançados para possibilitar uma grande abrangência de discussões dentro de um tema comum. Os sistemas de redes sociais passaram a estabelecer conversas por meios diferentes sem precisar usar sistemas diferentes. Nos sistemas de redes sociais, o fórum encontra-se implementado em comunidades ou grupos de interesse. A organização das mensagens nos fóruns desses sistemas de redes sociais, como o Facebook, não é estruturada em vários níveis hierárquicos, como ocorre nos sistemas específicos de fórum como PhpBB e vBulletin.

Mensageiro Instantâneo

O mensageiro instantâneo é um meio de conversação síncrona em que dois interlocutores trocam mensagens de texto curtas. Esse meio de conversação é tão antigo quanto o correio eletrônico, ambos são anteriores às redes de computadores, foram implementados em meados da década de 1960 num sistema operacional multiusuário de mainframe. Os primeiros sistemas de mensageiro instantâneo já implementavam algumas das principais funcionalidades que são encontradas nos sistemas contemporâneos: para não interromper a atividade que o usuário estiver realizando no momento em que for chamado para uma conversa, é apresentada uma notificação periférica, uma mensagem na parte inferior da tela para a pessoa aceitar e iniciar a conversa, ou recusar avisando estar ocupada, ou simplesmente ignorar.

Os sistemas populares que contribuíram com funcionalidades inovadoras e influenciaram o desenvolvimento dos sistemas contemporâneos que implementam esse meio de conversação estão representados na linha do tempo da evolução do mensageiro instantâneo, apresentada a seguir.

Os mesmos desenvolvedores do Centro de Computação do MIT (Massachusetts Institute of Technology), que codificaram o comando MAIL para enviar uma mensagem de texto para uma caixa postal em um CTSS, introduziram o comando WRITE, como subcomando para o comando shell .SAVED. A necessidade de conhecimento específico restringia o uso do mensageiro instantâneo a poucos usuários membros da equipe de programação do CTSS, contudo, dentro deste grupo, o comando teve ampla aceitação, sendo que no início dos anos 1970 mais de 1000 usuários do CTSS do MIT o utilizavam para a coordenação do trabalho e compartilhamento de informações.

Comandos WRITE e .SAVED (1965)

O comando WRITE possibilitava a um usuário enviar uma mensagem com limite de 120 caracteres para serem impressas no terminal de outro usuário, que deveria estar conectado ao CTSS ao mesmo tempo. Esse destinatário, por sua vez, usava o comando .SAVED, que lia e executava linhas de comandos do terminal. Esses eram os comandos que possibilitavam a comunicação síncrona entre dois usuários do CTSS.

No início dos anos 1970, com o desenvolvimento das redes de computadores na ARPANet, programadores buscaram soluções para possibilitar a comunicação síncrona em tempo real com outros usuários da rede por mensagens de texto. Dentre essas soluções estava o comando talk, proposto em 1972, que se tornou um dos padrões para comunicação na ARPANet e influenciou o projeto de outros sistemas de mensageiro instantâneo, como o ytalk, lançado em 1990, compatível com os clientes e servidores do talk.

Comando talk (1972)

O sistema transmitia as mensagens em tempo real, contudo não separava os textos digitados por cada usuário. Se os caracteres fossem digitados por cada um dos interlocutores simultaneamente, ficavam entremeados no texto. Portanto, cada usuário tinha que aguardar até que o outro terminasse sua digitação para a conversa ficar compreensível. O servidor do talk abria uma sessão entre um usuário conectado ao sistema local e outro usuário em um computador remoto. O usuário que iniciasse a conversa deveria saber a identificação da máquina e o nome do seu interlocutor. Para solucionar o problema da mistura de caracteres digitados por usuários diferentes, a interface da versão de 1983 do talk passou a ser dividida em duas partes, cada uma correspondendo ao texto digitado por um dos interlocutores.

 

ytalk (1990)

Foi o primeiro sistema mensageiro instantâneo a possibilitar conversas entre mais de dois usuários. A tela do ytalk era dividida em duas ou mais regiões ou janelas, cada uma relacionada a uma pessoa com quem o usuário estava conversando. Os caracteres digitados pelo usuário apareciam na janela de cada um de seus interlocutores e cada tecla digitada por um desses interlocutores só seria visualizada em sua janela correspondente.

Em 1973 foi lançado o comando term talk para o sistema PLATO (Programmed Logic for Automated Teaching Operations). O PLATO é considerado como o primeiro sistema utilizado para educação mediada pela computação e compreendia milhares de terminais conectados em uma rede de instituições educacionais. O term talk foi inspirado pelo sucesso do sistema de bate-papo Talkomatic, utilizado também no sistema PLATO para conversa entre muitos usuários.

Comando term talk (1972)

Com o comando term talk, um usuário do sistema PLATO se comunicava com outro usuário conectado em outra estação de trabalho, bastando digitar o comando e o nome da pessoa com quem queria conversar. Após digitar o comando apareciam dois prompts na parte inferior da tela, uma linha para cada interlocutor. O sistema possibilitava especificar de quem um usuário gostaria de receber mensagens. As opções eram: receber de qualquer usuário, de qualquer usuário do mesmo curso ou de nenhum usuário. Para responder a uma mensagem, o usuário deveria usar o comando term talk. Para se recusar a conversar, deveria digitar o comando term reject, ou optar por ignorar a mensagem recebida. Outras funcionalidades eram a visualização de quais usuários estavam conectados ao sistema e o modo monitor, que possibilitava visualizar a tela do outro usuário e realizar outras tarefas, como editar arquivos e executar programas enquanto o usuário mantinha a conversa na parte de baixo da tela.

No início dos anos 1980, o lançamento de computadores pessoais expandiu o uso de computadores para fora do ambiente de trabalho. Um desses lançamentos, em 1982, foi o Commodore 64, que incluía a rede Quantum Link (Q-Link) com o sistema de mensagens instantâneas On-Line Messages (OLM).

On-Line Messages (1982)

Os usuários trocavam mensagens de texto conectados à internet por um modem pela linha telefônica. A tela do On-Line Messages era dividida em seções e o sistema utilizava uma interface gráfica primitiva, com os caracteres gráficos do Commodore 64. Após o envio da mensagem, o receptor recebia no topo da tela um aviso de sua chegada, incluindo a identificação do remetente, destacado em um fundo amarelo, e optava por respondê-la ou ignorá-la. Posteriormente, o On-Line Messages mudou seu nome para FlashMail e o Quantum Link mudou seu nome nos anos 1990 para America Online.

Os protocolos contribuíram para a evolução do mensageiro instantâneo. Um dos primeiros protocolos desenvolvidos para esse meio de conversação foi o Zephyr, lançado em 1986 como parte do Projeto Athena, do MIT.

Zephyr (1986)

O Zephyr foi desenvolvido como solução para o problema de localização e comunicação entre provedores de serviço e usuários. A solução foi dividir o problema em duas partes: localizar os usuários em um sistema distribuído (detecção de presença) e enviar as mensagens para esses usuários no sistema.

Com a popularização da web a partir da metade da década de 1990, foram desenvolvidos projetos de sistemas de mensageiros instantâneos dotados de interface gráfica, como PowWow, AIM (AOL Instant Messenger) e ICQ, que rodavam como software cliente no computador do usuário. A tecnologia da interface gráfica possibilitou aos serviços de mensageiros instantâneos incluírem diversas novas funcionalidades, como identificação dos usuários por fotos, visualização de arquivos multimídia e uso dos emoticons durante a conversa.

PowWow (1994)

O PowWow, lançado no final de 1994, trouxe funcionalidades como integração com VoIP, edição e compartilhamento de desenhos em um whiteboard, transmissão de mensagens off-line, catálogo de usuários, atualização da tela e exibição de arquivos de áudio WAV. O PowWow era centrado em comunidades de usuários, divididas por grupos de interesse.

 

AIM (1995)

Nos anos 1990, antes do lançamento do Google e muito antes do Facebook, a AOL (America Online) era o portal de serviços baseado na web mais popular nos Estados Unidos. Dentre os serviços da AOL estava o sistema de mensagens instantâneas AIM, lançado primeiro para uso interno na empresa, em 1995, com o nome Buddy List e, posteriormente, já com o nome AIM, para os assinantes do portal e demais usuários. A Buddy List era também a principal funcionalidade do AIM e consistia em uma lista dos contatos do usuário com informações que identificavam a disponibilidade de cada um para conversar. Além da informação sobre disponibilidade e presença dos contatos, Buddy List também fazia uso de foto para identificar o contato e uma frase para indicar seu status.

 

ICQ (1996)

O ICQ foi lançado em 1996 e é considerado um marco na evolução do mensageiro instantâneo. ICQ é um acrônimo feito com base na pronúncia das letras em inglês, referindo-se a “I seek you” (eu procuro você), e foi baseado na chamada de código Morse “CQ”, que significa “chamar qualquer estação”. O sistema disponibilizava funcionalidades para personalizar a interface do usuário, inclusão de emoticons na mensagem e avatares para representar o usuário. O ICQ foi adquirido em 1998 pela AOL. Ao aproveitar a base de usuários da AOL, o ICQ, junto com o AIM tornaram-se mais populares nos anos 1990 do que o PowWow.

O aproveitamento de uma base de usuários de outros sistemas é uma das estratégias utilizadas por grandes empresas desenvolvedoras para conquistar uma grande quantidade de usuários logo após o lançamento de um sistema. O MSN Messenger, da Microsoft, lançado em 1999, tornou-se um dos mensageiros instantâneos mais populares na década seguinte, em parte devido à integração com outros sistemas da empresa, como o Windows e o Hotmail.

A competição entre os sistemas de mensagens instantâneas trouxe um problema para os usuários. Devido à falta de interoperabilidade, os usuários de um sistema não conseguiam se comunicar com os usuários de outro sistema. Resolver esse problema de interoperabilidade foi o intuito de sistemas como Gaim, lançado em 1999, e Trillian, lançado em 2000, que foram desenvolvidos para dar suporte a diversos protocolos e, desta forma, conectar diversos serviços de mensageiro instantâneo, integrando as listas de contato. Outra solução alternativa foi o desenvolvimento do protocolo XMPP (Extensible Messaging and Presence Protocol), que serviu como base para o sistema Google Talk.

Soluções para interoperabilidade entre os sistemas de mensageiros

XMPP/Jabber (1999): nomeado em suas primeiras versões como Jabber, foi lançado a partir de uma comunidade de desenvolvedores de software de código aberto. Por ser um protocolo de código aberto, os diversos sistemas que utilizam o XMPP se comunicam, mesmo rodando em sistemas operacionais diferentes.

Google Talk (2005): baseado no protocolo XMPP, inclui também a integração com outros sistemas de conversação, como Gmail e Skype, e redes sociais, como Orkut e Google+, além da inclusão de serviços de comunicação por voz e vídeo.

Meebo (2005): estendeu essa capacidade de conectar sistemas distintos a partir de qualquer local, por ser baseado na web.

Os mensageiros instantâneos são atualmente integrados aos sistemas de redes sociais como o Facebook e o Orkut, possibilitando a conversa particular em tempo real com cada amigo. Quando integrados a outros meios de conversação, os mensageiros instantâneos compartilham as listas de contatos com esses outros meios.

Os aplicativos de mensageiros instantâneos em smartphones utilizam a lista de contatos do celular ou mesmo a visualização da localização geográfica dos contatos. Assim como nas redes sociais, os sistemas que implementam mensageiros desenvolvidos para smartphones, como Facebook Messenger, Skype e WhatsApp integram diversos meios, como bate-papo e vídeochamada, que são disponibilizados de acordo com o contexto ou pela ação do usuário.

Análise da evolução do mensageiro instantâneo

Para possibilitar a conversa pelo mensageiro instantâneo, foi necessário atender a alguns objetivos específicos que direcionaram a evolução desse meio:

Facilitar o acesso aos contatos: Desde os anos 1970 já era possível identificar quais os interlocutores estavam conectados em um sistema de mensageiro instantâneo. Com o advento da web, foram desenvolvidas funcionalidades como lista de contatos e informações sobre a presença e a disponibilidade dos interlocutores.

Facilitar a coordenação da conversação síncrona: As primeiras soluções ainda não possibilitavam uma conversa próxima do tempo real, mas exigiam que ambos os interlocutores estivessem conectados ao mesmo tempo para trocar as mensagens. Com a transmissão em tempo real, o desafio passou a ser organizar, separadamente, os textos que cada interlocutor digita. Depois os sistemas também passaram a informar o momento em que o interlocutor está digitando a mensagem (enquanto ainda não a enviou).

Favorecer uma conversa informal: A informalidade da conversação aumentou, nos mensageiros, após o lançamento de sistemas com interface gráfica que possibilitaram representar emoções distintas com os emoticons. Alguns sistemas, ao exibir a mensagem enviada, transformam automaticamente uma combinação de caracteres numa imagem de emoticons.

Bate-papo (chat)

O bate-papo é um meio de conversação síncrona para a discussão em turma (ou grupo pequeno) em que todos trocam mensagens textuais curtas. Denomina-se sala de bate-papo, ou canal, o ambiente virtual que reúne os interlocutores em função de um tema de interesse. Ao entrar numa sala de bate-papo, o interlocutor geralmente conversa com desconhecidos e utiliza um nickname (apelido) para não expor sua identidade real. Atualmente, pelos sistemas de redes sociais, o bate-papo é realizado com os membros de um grupo ou com uma seleção de amigos online agrupados pelo próprio usuário.

Os sistemas populares que contribuíram com funcionalidades inovadoras e influenciaram o desenvolvimento dos sistemas contemporâneos que implementam esse meio de conversação estão representados na linha do tempo da evolução do bate-papo, apresentada a seguir.

O desenvolvimento do bate-papo foi influenciado pelo lançamento das redes de computadores, que possibilitaram a conversação entre muitos interlocutores, e pelos sistemas de conferência por linha telefônica. O Party Line, implementado no EMISARI, lançado em 1971, já implementava um bate-papo para a troca de mensagens simultâneas de texto entre até 15 pessoas.

Party Line, EMISARI (1971)

O EMISARI (Emergency Management Information Systems And Reference Index) foi desenvolvido para possibilitar a troca de informações por meio de pesquisas de opinião entre pessoas distribuídas em diferentes localidades. Os usuários utilizavam o sistema EMISARI através de terminais conectados por linhas telefônicas a um computador central.
O Party Line, implementado no EMISARI, já continha algumas funcionalidades presentes nos serviços de bate-papo contemporâneos, como a lista dos participantes conectados e o alerta da entrada ou saída de um participante do grupo. “Party line” é o termo em inglês para denotar as linhas de telefone compartilhadas por várias residências. Essa era a forma típica (e não a exceção) de usar o serviço de telefonia local para fins não comerciais nos EUA antes da II Guerra Mundial.

O Party Line era um sistema utilizado para comunicação entre usuários conectados a um mesmo computador. Já o Planning Network (PLANET), desenvolvido em 1973, implementava um bate-papo para a troca de mensagens entre usuários em computadores distintos conectados em rede. No mesmo ano foi lançado o Talkomatic, sistema desenvolvido para o bate-papo entre usuários do PLATO. A experiência acumulada no projeto do EMISARI e do Party Line levou os mesmos desenvolvedores destes sistemas a iniciar um novo projeto em 1974, o EIES.

PLANET (1973)

Esse sistema foi desenvolvido para possibilitar conversas entre usuários da ARPANet, que geralmente eram administradores de órgãos governamentais e da indústria sem experiência prévia no uso de computadores. O projeto desse sistema já tinha como objetivo a facilidade de uso para a operação do sistema, obtida por meio da utilização de comandos mais simples e de poucas teclas.

 

Talkomatic (1973)

A tela era dividida em diversas janelas horizontais, cada uma delas utilizada por um participante do bate-papo. Essa funcionalidade possibilitou que os usuários digitassem textos ao mesmo tempo. A mensagem digitada por um usuário aparecia em sua janela e ele via as mensagens dos demais usuários nas respectivas janelas. O sistema fornecia suporte a múltiplos canais, cada um deles com no máximo 5 participantes, dada a limitação do tamanho da tela. O Talkomatic influenciou o projeto de outro sistema de comunicação do PLATO, o term talk, utilizado para troca de mensagens instantâneas.

 

EIES (1974)

O sistema EIES (Electronic Information Exchange System) foi desenvolvido para ser usado por grandes empresas, universidades e agências governamentais para facilitar a pesquisa, compartilhar cursos e conduzir sessões de conferência. O sistema EIES teve impacto tanto na aceitação do uso de sistemas computacionais para a realização de conferências, quanto na influência no projeto de comunidades como The Well.

Nos anos 1960 e 1970, assim como ocorreu com outros meios de conversação, os sistemas que implementavam o bate-papo eram de uso restrito a redes de computadores particulares. Um sistema lançado para uso público e comercial foi o CompuServe CB Simulator, desenvolvido pela CompuServe em 1980.

CompuServe CB Simulator (1980)

A CompuServe era a maior provedora de serviços comerciais de internet durante os anos 1980 e início dos anos 1990, e seus serviços de comunicação como fóruns e bate-papo influenciaram a formação dos serviços online e a cultura de uso dos sistemas. O CompuServe CB Simulator teve seu nome e projeto inspirado pelo radioamador (Citizen Band), devido ao uso de três bandas, cada uma com 36 canais separados por temas a serem discutidos. O usuário selecionava pelo seletor de canais aquele no qual queria participar da conversa, procurava conhecidos em uma lista de usuários conectados e verificava as atividades em cada um dos 36 canais pelo display gráfico. O sistema chegou a alcançar mais de um milhão de usuários, lançando formas de comunicação influentes até hoje, como as abreviaturas IMHO (in my humble opinion), MORF (male or female) e os emoticons textuais, como 🙂 e ;). Dentre suas funcionalidades estavam o suporte ao uso simultâneo de mais de 300 usuários e janelas separadas para envio e recebimento de mensagens.

O bate-papo, ao longo de sua evolução, passou a ser um serviço integrado a outros sistemas para possibilitar a conversa entre usuários. Nos anos 1980, os sistemas BBS (Bulletin Board System) estavam no auge e muitos desses sistemas incorporavam um serviço de bate-papo e de mensagens instantâneas. Esta integração influenciou o projeto do sistema Talk, primeiro talker, lançado em 1983 baseado no talk do Unix.

talkers

O sistema Talk incluía a funcionalidade de enviar mensagens particulares para usuários do bate-papo, formação de grupos e convite para usuários entrarem no grupo. Sistemas do tipo talker eram executados em um único servidor, com capacidade limitada a poucas centenas de usuários conectados simultaneamente. Nos primeiros anos, os talkers eram limitados a redes locais, mas a partir de 1990 foram lançados talkers para a internet, como o Cat Chat, Cheeseplants House e Elsewhere.

Uma das funcionalidades inovadoras nos sistemas que implementavam o bate-papo, incluída a partir do final dos anos 1980, foi o envio de mensagens para usuários com identidade desconhecida. Até essa época, para usar o bate-papo era preciso informar a identidade, seja o nome de usuário ou login, além de ser identificado o nome do computador ao qual o usuário estava conectado. O Bitnet Relay Chat, lançado em 1985, possibilitava o envio de mensagens mesmo sem a identificação dos interlocutores.

Bitnet Relay Chat (1985)

Para usar o sistema, o usuário enviava uma mensagem instantânea (MSG) para outro usuário, identificado como RELAY. Em seguida o programa disponibilizava diversas funções, como canais ou salas de bate-papo, pelos quais o usuário enviava mensagens para um ou mais usuários conectados a servidores remotos.

O Bitnet Relay Chat influenciou o projeto do IRC (Internet Relay Chat), sistema baseado em protocolo aberto que não tinha limitação quanto ao número de usuários conectados simultaneamente, de forma distinta dos talkers, e foi destinado ao uso público na internet pouco após o seu lançamento em 1988.

IRC (1988)

Assim como o Talk, o IRC (Internet Relay Chat) também foi influenciado pelo talk do Unix. Foi desenvolvido para usuários de um BBS, com base no Bitnet Relay Chat. O IRC foi testado na Universidade de Olu, na Finlândia, e o crescimento de uso foi gradativo, partindo da própria máquina do desenvolvedor até chegar ao alcance mundial. O protocolo do IRC foi aberto ao público em 1993. Com a abertura para uso comercial da internet, o IRC se tornou um dos fenômenos de popularidade da rede nos anos 1990.

O IRC especifica a implementação de bate-papo em que as pessoas conversam sincronamente em canais temáticos. Cada canal é formado com a entrada de um interlocutor e é extinto quando o último interlocutor deixa o canal. Os canais são monitorados por usuários com privilégios de administrador, chamados de operadores de IRC. Dado o protocolo aberto do IRC, ao longo de sua evolução foram lançados software clientes programados em diversas linguagens, para diversos sistemas operacionais, e com diferentes interfaces. Dentre os clientes de IRC mais populares, destacam-se o mIRC, Trillian, XChat e Pidgin. Um programa cliente se conecta a um servidor de IRC, que formam as redes de IRC como: QuakeNet, Undernet, IRCnet e EFnet. No Brasil, as redes de IRC mais usadas foram a BrasIRC e BrasNET.

Nos anos 1990, com o desenvolvimento da web, foram implementados webChats, sistemas de bate-papo baseados na web. Com a popularização das interfaces gráficas e da banda larga, foram desenvolvidos sistemas de bate-papo gráfico.

WebChats (meados dos anos 1990)

WebChats utilizam recursos como imagens, fontes e cores que, junto com a ausência da necessidade de instalar um software cliente, facilitaram o acesso aos usuários menos acostumados ao uso do computador. Muitos desses sistemas eram integrados como serviços a portais de conteúdo, como os do Yahoo, Lycos, Excite e UOL, cujo bate-papo se tornou popular no Brasil. Outros webChats foram lançados inicialmente como comunidades, integrando também outros serviços de conversação, como o WBS (WebChat Broadcasting System), lançado em 1993, que chegou a 1,5 milhões de usuários cadastrados em 1997.

Os primeiros webChats tinham desvantagens em relação aos softwares clientes, pois eram baseados em páginas desenvolvidas em HTML, carregadas sempre a cada nova mensagem enviada pelo usuário. Com o desenvolvimento de tecnologias como o Java Applet, lançado em 1995, os sistemas baseados na web ganharam mais possibilidades de interação. Em meados dos anos 2000, com tecnologias como o Ajax, os webChats ficaram ainda mais interativos e com comportamento semelhante aos sistemas instalados como software cliente no computador do usuário, sem necessitar do carregamento de páginas a cada mensagem enviada.

 

Bate-papo gráfico

Um sistema de bate-papo gráfico adiciona gráficos em 2D ou 3D, com o uso de avatares, personagens elaborados pelo usuário para representar sua identidade virtual. Os usuários, além de construir seu personagem, também customizam o mundo virtual. Dentre os principais sistemas desse tipo estão o The Palace, lançado em 1994, Habbo, Body Chat, Chat Circles e IMVU.

Ambientes virtuais como o Active Worlds (1995) e o Second Life (2003), assim como muitos jogos em rede, incorporam o bate-papo como serviço. Nesses mundos virtuais, muitas vezes o bate-papo é georreferenciado: o usuário só conversa com os demais usuários que estão próximos dele no mundo virtual.

Com a popularização dos sistemas de redes sociais a partir da metade dos anos 2000, muitos usuários passaram a bater papo pelos serviços implementados em sistemas como o Facebook, que possibilita conversar sincronamente com vários amigos online ou com os membros de um grupo.

Análise da evolução do bate-papo

Para possibilitar a conversa pelo bate-papo, foi necessário atender a alguns objetivos específicos que direcionaram a evolução desse meio:

Possibilitar conversas síncronas entre grupos distintos: Com a popularização dos computadores e das redes, os desenvolvedores perceberam a necessidade de possibilitar múltiplas conversas simultâneas. Influenciados pelos radioamadores, alguns sistemas de bate-papo dividiram as conversas em canais, posteriormente chamados de salas de bate-papo. Cada canal ou sala era identificado com um tema específico ou com um grupo específico.

Possibilitar o anonimato do interlocutor na conversa: Até o início dos anos 1980, os sistemas de bate-papo exigiam que o usuário fornecesse sua identidade real. Com a popularização desse meio, as conversas passaram a ocorrer entre pessoas desconhecidas. Para preservar o anonimato dos usuários, foram desenvolvidas soluções como o uso de nicknames e avatares. Porém o anonimato teve consequências negativas, como o abuso de mensagens hostis, dificultando a moderação das salas. Com a popularização dos sistemas de redes sociais, os serviços de bate-papo atualmente agrupam, em geral, pessoas conhecidas e identificadas pelo perfil na rede social.

SMS (torpedo) e Mensagens em Grupo

O SMS (Short Message Service – serviço de mensagens curtas) é um meio de conversação assíncrona entre dois interlocutores que trocam mensagens de texto curtas. Assemelha-se ao email por ser também um meio de conversação assíncrona realizada através da troca de mensagens particulares de texto, mas se diferencia do email por limitar o tamanho da mensagem em 160 caracteres. O SMS foi originalmente desenvolvido para possibilitar a troca de texto pelo telefone celular.

Na década de 2010 foram desenvolvidos aplicativos para smartphones que, além de implementarem o SMS, passaram a possibilitar também a conversa em grupo pela troca assíncrona de mensagens curtas de texto. Com a rápida popularização desses sistemas, que apresentam características inéditas de conversação, reconhecemos o desenvolvimento do mais recente meio de conversação que aqui denominamos “mensagens em grupo”. O meio mensagens em grupo assemelha-se à lista de discussão por possibilitar a discussão assíncrona em grupo, mas diferencia-se pelo fato das mensagens serem curtas.

Os sistemas populares que contribuíram com funcionalidades inovadoras e influenciaram o desenvolvimento dos sistemas contemporâneos que implementam esses meios de conversação estão representados na linha do tempo da evolução do SMS e das mensagens em grupo, apresentada a seguir.

As primeiras experiências de meios de conversação com envio de mensagens curtas de texto a distância datam do final do século XVIII, com o desenvolvimento do telégrafo óptico, que agilizou a comunicação assíncrona remota, e com a subsequente invenção do telégrafo elétrico, com uso do Código Morse para o envio de mensagens na segunda metade do século XIX, e do telégrafo com transmissão por ondas de rádio, no final do século XIX.

Telégrafo (final do século XVIII)

O telégrafo, utilizado desde os anos 1840, influenciou experimentos que resultaram no telefone, por volta de 1870. A ideia de Graham Bell era transmitir pelo telégrafo múltiplas mensagens pelo mesmo fio ao mesmo tempo, contudo os experimentos com o envio de sons pela fiação elétrica ultrapassaram as expectativas e resultaram em um novo meio de comunicação.

Na história ocorreram muitos casos de previsões sobre tecnologias futuras feitas muitas décadas antes de serem lançadas. Em 1909, mais de 80 anos antes do lançamento do primeiro sistema de SMS, o físico Nicolas Tesla escreveu na revista Popular Mechanics que um dia seria possível transmitir mensagens sem fio e se comunicar com os amigos ao redor do mundo e imaginou que o dispositivo para essa transmissão seria simples de usar. Uma das inspirações para a previsão de Tesla foi a primeira demonstração de telefonia por rádio, em 1906. Essa previsão revela o quão distante no tempo pode ser o momento em que é concebida uma ideia e sua concretização.

Ao longo do século XX, a telefonia fixa progrediu ao ponto da maioria das residências possuírem um telefone próprio. O advento da comunicação por linha telefônica e por ondas de rádio inspirou novos meios de comunicação com envio de mensagens de texto à distância, como o Telex, a partir da década de 1930, e fax, teletexto e videotexto, a partir da década de 1970. Desde os anos 1990 esses meios de comunicação foram convergindo e sendo transformados em meios de conversação da Internet.

Apesar dos primeiros experimentos datarem dos anos 1940 e 1950, os primeiros protótipos de telefones móveis com realização de chamadas bem-sucedidas só foram desenvolvidos no início dos anos 1970, as primeiras redes de telefonia móvel só entraram em operação no início dos anos 1980, e a primeira chamada comercial só foi realizada em 1983. Antes das linhas de telefones móveis, o radioamador era a tecnologia utilizada para manter contato com outras pessoas longe de casa ou do ambiente de trabalho, contudo o número crescente de usuários para uma quantidade reduzida de frequências resultava em interferências na comunicação e, com o tempo, muitos usuários migraram para a telefonia móvel.

Os primeiros telefones móveis eram dispositivos analógicos e o mercado oferecia tecnologias e protocolos incompatíveis. Para estabelecer um padrão para a telefonia móvel, em 1982 foi reunido um comitê, o Groupe Spécial Mobile (GSM), formado principalmente por engenheiros de telecomunicações franceses. Em 1987, um acordo entre 13 países europeus resultou na formação de uma rede de telefonia móvel baseada em padrões abertos desenvolvidos pelo GSM e comuns aos países signatários. Uma das ideias do GSM era que a rede de telefonia móvel suportasse e integrasse diversos serviços envolvendo transmissão de voz, dados e texto. O SMS foi uma proposta desenvolvida a partir das pesquisas do GSM. Essa proposta tinha como objetivo transportar mensagens de texto pela linha telefônica. Para alcançar esse objetivo foi preciso desenvolver tecnologias, estabelecer padrões e um limite de 160 caracteres para cada mensagem. Outros meios de comunicação, como o Telex e cartões postais, também restringiam o espaço para envio de mensagens, por isso os desenvolvedores não consideraram que o limite de caracteres do SMS desestimularia o seu uso. Nenhum dos elementos constituintes da proposta do SMS feita pelos desenvolvedores para o GSM era novo: nem o conceito de envio de mensagens de texto entre telefones móveis, nem a transmissão de dados, nem a integração de serviços. A novidade era a combinação desses conceitos numa única tecnologia.

O desenvolvimento do SMS levou algum tempo até que a primeira mensagem fosse enviada, pela rede GSM Vodafone, a partir de um computador pessoal para um telefone móvel Orbitel 901, em 1992. No início dos anos 1990 foram lançados os telefones de segunda geração (2G), que substituíram a telefonia móvel analógica pela digital e possibilitaram um maior número de ligações simultâneas e a integração com outros serviços, como o SMS. Em 1993 foi implementado o uso comercial do SMS, por empresas como a sueca Aldiscon, a americana Fleet Call, a norueguesa Telenor, a finlandesa Radiolinja e a britânica BT Cellnet.

O primeiro telefone celular a dar suporte ao envio de SMS foi o aparelho da Nokia, em 1993, contudo o serviço não alcançou popularidade imediata e o motivo foi que nos primeiros anos da telefonia móvel os telefones só podiam ser adquiridos por adultos, pois só estavam disponíveis mediante um contrato, que, por lei, apenas maiores de 18 anos poderiam assinar. Os adultos não compreendiam as vantagens daquele novo meio de conversação. Em 1995, um usuário americano enviava em média apenas 0,4 mensagens por mês. A popularidade do SMS só aumentou quando os adolescentes passaram a adquirir telefones a partir do lançamento dos cartões pré-pagos, em 1996. No ano 2000 um usuário americano já enviava em média 35 mensagens por mês. Novas tecnologias lançadas ao longo dos anos 1990 também contribuíram para o sucesso do SMS, como o teclado completo para digitação do Nokia 9000i, em 1997, e a possibilidade de enviar mensagens para outras operadoras, em 1999.

A evolução dos teclados nos telefones móveis foi fundamental para facilitar o uso e aumentar a popularidade do SMS. Um dos padrões desenvolvidos para esse fim foi o T9, lançado em 1995, que usa a sequência de teclas pressionada pelo usuário para prever as palavras possíveis a partir de um dicionário, sem que ele tenha que digitá-las letra por letra.

Nos anos 2000, a evolução do SMS continuou a ser influenciada pela evolução das tecnologias para telefones móveis. Essa evolução é caracterizada pelas mudanças de gerações de padrões e tecnologias de telefonia móvel. A geração 3G, lançada em meados dessa década, com transmissão mais rápida de dados, possibilitou o envio de mensagens com arquivos multimídia e teve como consequência a ampliação do uso da internet pelos telefones móveis. No início dos anos 2000 foram lançados também os primeiros telefones móveis com câmera digital. A partir dessa evolução tecnológica, o SMS também evoluiu para oferecer suporte ao envio de arquivos multimídia. O EMS é uma tecnologia intermediária que se tornou obsoleta com o lançamento do MMS.

EMS (1999) e MMS (2002)

Um telefone com EMS (Enhanced Messaging Service) pode receber e enviar mensagens com formatação de texto, animações, imagens, ícones e efeitos sonoros, porém em arquivos anexados e com recursos limitados.

Com o MMS (Multimedia Messaging Service), os usuários passaram a enviar imagens, vídeos e áudio juntos no próprio texto da mensagem. O tamanho das mensagens já não é mais medido em caracteres, mas em kilobytes. Enquanto no EMS uma mensagem com conteúdo multimídia enviada para um telefone sem o suporte a essa tecnologia é visualizada como um texto, no MMS a mensagem pode ser visualizada em um navegador web, mesmo que o telefone não ofereça suporte a este padrão. A possibilidade de enviar mensagens mais elaboradas levou a uma maior semelhança entre os meios de conversação SMS e email.

Com o lançamento dos smartphones, cada usuário passa a escolher diversas opções de sistemas para envio de mensagens por SMS ou MMS. Os aparelhos com sistemas Android ou iOS já possuem um aplicativo para SMS nativo, contudo ao longo do tempo foram lançados diversos aplicativos de SMS para essas plataformas, como Handcent, Go SMS e Pansi SMS. Os aplicativos são integrados a outros serviços, como agendas de contatos, redes sociais e ao compartilhamento de fotos capturadas pela câmera do dispositivo. Uma das funcionalidades presentes em aplicativos como o Handcent é a notificação da chegada das mensagens em alertas pop-up, já com o conteúdo da mensagem. O sucesso de funcionalidades como esta mostra que a evolução do SMS caminhou também para diminuir o tempo de resposta esperado e possibilitar uma conversação mais dinâmica, o que fez o SMS se tornar mais parecido com o mensageiro instantâneo.

Os aplicativos nativos de SMS nos smartphones passaram a sofrer competição de serviços de mensagens over the top (OTT), como WhatsApp, WeChat e Viber, que oferecem, além do SMS, outros meios como mensageiro instantâneo, bate-papo e vídeochamada e não requerem o custo extra de envio por mensagem da operadora de telefonia móvel. Esses aplicativos também desenvolveram uma adaptação do SMS para a troca em grupo de mensagens curtas de texto, em uma conversa assíncrona. O Facebook também implementa essas características em seu serviço Facebook Messenger. Essas características de conversação não estão presentes em meios anteriores: a lista de discussão possibilita a troca de mensagens de texto assíncronas em grupo, porém não é voltada para mensagens curtas; o bate-papo também possibilita a troca de mensagens de texto em grupo, contudo é voltado para a conversa síncrona. Com a rápida popularização, reconhecemos “mensagens em grupo” como um novo meio de conversação. Nos aplicativos de mensagens em grupo, o usuário convida seus contatos para a conversa, podendo em alguns casos dar nome ao grupo. O criador do grupo torna-se o administrador e é o responsável por adicionar os membros.

Análise da evolução do SMS

Para possibilitar a conversa pelo SMS, foi necessário atender a alguns objetivos específicos que direcionaram a evolução desse meio:

Transmitir mensagens de texto pela linha telefônica sem fio: O SMS é influenciado pela evolução da transmissão de mensagens de texto à distância, iniciada com o desenvolvimento do telégrafo e outras tecnologias como fax, Telex e teletexto. Com o desenvolvimento da telefonia móvel, o desafio passou a ser a transmissão de mensagens de texto para longas distâncias sem a necessidade de fiação. A solução passou pelo estabelecimento de padrões, desenvolvimento de tecnologias e limitação da quantidade de caracteres em cada mensagem. Com as sucessivas gerações de telefonia celular, a velocidade de transmissão das mensagens tornou-se cada vez maior, possibilitando também a inclusão em anexo de arquivos multimídia.
Facilitar a digitação das mensagens: O SMS é utilizado em contextos que requerem uma digitação rápida, pois os usuários muitas vezes utilizam os sistemas em situações durante as quais não podem perder tempo para enviar as mensagens. Uma das dificuldades enfrentadas é que os telefones celulares possuem pequenas dimensões e consequentemente seus teclados também possuem teclas menores do que as dos teclados de PCs. Como solução, passaram a oferecer funcionalidades como opções de inferência de palavras durante a digitação e exibição das teclas de acordo com a finalidade de uso.

A popularização do SMS ocorreu quando foi adotado pelos adolescentes em meados dos anos 1990, após esses terem permissão por lei de adquirirem telefones celulares. Ao contrário dos seus pais, acostumados a enviar mensagens elaboradas, os jovens querem uma comunicação mais ágil e não se importaram com o limite de caracteres imposto no SMS.

Análise da evolução das Mensagens em Grupo

Para atender às características das mensagens em grupo, foi necessário atender ao seguinte objetivo que direcionou a evolução desse meio:

Facilitar a troca de mensagens curtas em grupo pelo smartphone: Com a popularização do SMS e dos smartphones, e principalmente dos sistemas over the top (OTT), que não requerem pagamento às operadoras de telefonia e integram diversos meios de conversação, foram desenvolvidas funcionalidades para possibilitar a conversa em grupo com características semelhantes ao SMS. Para essa conversa em grupo foram adicionadas funcionalidades para criação, convite para membros e administração do grupo.

Blog e Microblog

O termo blog, que é a contração do termo original weblog = web + log (diário de bordo pela web), é um meio de conversação assíncrona em que um autor divulga mensagens de texto elaboradas para serem comentadas por todos. As postagens, que muitas vezes contêm links e conteúdo multimídia, ficam registradas e são listadas a partir da publicação mais recente. Cada postagem pode ser comentada pelos leitores, o que promove a conversação entre o autor e seus leitores. O microblog, por sua vez, é uma especiação do blog voltado para o envio de mensagens curtas. Blog e microblog se diferenciam dos demais meios de conversação assíncrona em grupo, como fórum e lista de discussão, pela relação estabelecida entre os interlocutores: no blog e no microblog, as mensagens são postadas exclusivamente pelo dono daquele blog ou microblog, e essas postagens é que podem ser comentadas pelos leitores-seguidores, o que torna a conversação centrada no autor.

Os sistemas populares que contribuíram com funcionalidades inovadoras que influenciaram o desenvolvimento dos sistemas contemporâneos que implementam esses meios de conversação estão representados na linha do tempo sobre a evolução do blog e do microblog, apresentada a seguir.

Durante o século passado, os espaços para divulgar artigos, matérias, reportagens e outros tipos de conteúdo para um grande público eram os jornais, revistas e outras formas de publicação em que o conteúdo era selecionado pelos editores. Nesses meios de comunicação de massa, não há o retorno da audiência, não há interação entre os autores e os leitores (exceto através de outros meios, como as cartas dos leitores comentando o conteúdo da publicação passada; mas até as cartas que serão publicadas na edição seguinte também são selecionadas pelos editores). O desenvolvimento do blog promoveu duas mudanças importantes: a possibilidade de qualquer pessoa com acesso à internet publicar um conteúdo sem a necessidade do filtro editorial, e interagir diretamente com os leitores através dos comentários sobre cada conteúdo publicado.

O blog representa uma evolução dos primeiros sites publicados na web, escritos em formato de hipertexto. Para compreender a evolução do blog é importante conhecer a evolução do hipertexto.

Hipertexto (início dos anos 1980)

Memex (memory + index), proposto por Vannevar Bush em 1945, era um dispositivo mecânico concebido como uma extensão da memória humana cujo objetivo era facilitar a produção, o armazenamento e a recuperação de textos. O Memex, publicado no artigo intitulado “As We May Think”, é frequentemente caracterizado como a ideia precursora do hipertexto.

O termo hipertexto foi proposto em 1965 no projeto Xanadu de Ted Nelson, que também desenvolveu o conceito de hiperlinks. O projeto Xanadu não obteve financiamento para ser concretizado. Em 1968 foi apresentado o primeiro sistema com links entre arquivos, o Augment, projetado sob a direção de Douglas Engelbart, considerado o primeiro sistema de hipertexto, além de possuir diversos outros serviços para conversação: mensagens eletrônicas, teleconferência, compartilhamento e arquivamento de mensagens. Com os avanços tecnológicos a partir dos anos 1970, como o computador pessoal, as interfaces gráficas e o aumento da capacidade de armazenamento e processamento, foi viabilizado o desenvolvimento de sistemas comerciais baseados em hipertexto ao longo dos anos 1980. Com o desenvolvimento da web e a abertura da internet para uso comercial, o hipertexto, agora em formato de website, passou a fazer parte do cotidiano das pessoas.

Nos anos 1990, os sites na web eram construídos como páginas estáticas, com pouca atualização de conteúdo e o autor do site precisava dominar as tecnologias e as linguagens utilizadas para escrever as páginas web. Com a evolução, os sites passaram a ter conteúdo dinâmico e possibilitar que mais pessoas interagissem, publicassem e atualizassem as páginas sem necessariamente ter conhecimento técnico. A partir de 1994 foram lançados os online diaries, diários pessoais publicados na web, que formavam comunidades e cujo conteúdo se assemelhava ao publicado em jornais impressos.

Online diaries (1994)

Open Diary, publicado por Claudio Pinhanez no MIT Lab em novembro de 1994, foi uma iniciativa seguida por diversos outros escritores de diários online, cujas páginas com assuntos em comum eram conectadas em comunidades e webrings. A primeira dessas comunidades, também nomeada Open Diary, foi lançada em outubro de 1998 e é considerada como um dos primeiros exemplos de sistemas de redes sociais. O Open Diary foi desenvolvido com o intuito de hospedar os diários online e influenciou os sistemas de publicação de blogs lançados a partir do ano seguinte. Foi também pioneiro ao possibilitar aos leitores enviarem comentários para as publicações, característica que identifica o blog como um meio de conversação.

O termo weblog foi proposto em dezembro de 1997 por Jorn Barger, contudo em abril deste mesmo ano já existia um blog, o Scripting News, o mais antigo ainda na ativa. O significado de weblog está relacionado ao registro do que acontecia na web: esses pioneiros tinham como função comentar conteúdos da web e postar links para outras páginas, realizando o papel de filtro de conteúdo sobre determinado tema. Alguns autores publicavam listas reunindo links para todos os blogs que conheciam, contribuindo para formar uma comunidade, que posteriormente resultaria na blogosfera. Essas listas de blogs foram incorporadas posteriormente aos sistemas com a denominação de blogroll. Como parte dessa prática, esses autores discutiam entre si qual o critério que um site deveria ter para entrar em suas listas. O critério escolhido foi que cada conteúdo do site deveria ser acompanhado da data em que foi publicado. Esse tipo de debate contribuiu para a definição do blog como meio de conversação.

A abreviatura blog, assim como os primeiros sistemas nomeados desta forma, apareceu somente em 1999 e, a partir desse ano, ocorreu a popularização desse meio de conversação. No final dos anos 1990 já havia diversos sistemas para edição de conteúdo que possibilitavam a pessoas desenvolver suas próprias páginas na web sem necessidade de conhecer a linguagem HTML. Alguns desses sistemas foram projetados para facilitar a publicação de blog, tais como LiveJournal, Pitas e Blogger.

LiveJournal, Pitas e Blogger (1999)

O LiveJournal foi lançado em março de 1999 como uma forma de seu autor, Brad Fitzpatrick, manter os amigos atualizados sobre as atividades dele. Consiste em uma comunidade em que cada membro pode publicar seus blogs ou journals. As duas funcionalidades desse sistema – a lista de amigos e a possibilidade de acompanhar suas atualizações – faz o LiveJournal ser considerado um dos precursores das redes sociais e dos microblogs.

Pitas e Blogger, lançados respectivamente em julho e agosto de 1999, foram desenvolvidos para funcionar como um servidor de hospedagem de blogs, e possibilitam a customização das páginas. Esses sistemas facilitaram a publicação de conteúdo mesmo para usuários com domínio básico de informática, fato que contribuiu para aumentar a popularidade dos blogs e a interatividade na web. Com os blogs, muitas pessoas que antes eram somente leitoras passaram a também publicar conteúdo. A facilidade de publicação de blogs estimulou os usuários a publicarem conteúdos sobre sua vida pessoal como um diário.

No início dos anos 2000, algumas funcionalidades contribuíram para a evolução do blog: permalink, para referenciar o endereço de cada conteúdo publicado e torná-lo independente da página; comentários, para a troca de opiniões entre escritor e seus leitores; blogroll, que reúne uma lista de links para blogs recomendados por cada blogueiro; linkbacks, para cada autor descobrir quando alguém faz referência a seu conteúdo; RSS, formato de código padrão para facilitar a leitura de conteúdo dos blogs e outros websites através de leitores de feeds, sem que seja preciso visitar cada página. Em poucos anos, o número de blogs cresceu tanto que a comunidade que envolve todos os blogs passou a ser chamada de blogosfera. Sistemas como o Technorati foram desenvolvidos para facilitar o acompanhamento das publicações nos blogs favoritos, realizar buscas por assunto e verificar os blogs ou publicações mais populares.

O blog foi adotado não só pelo público em geral, mas também pela mídia tradicional. Portais de jornais e revistas utilizam o blog para publicar conteúdo de notícias, reportagens e colunas sem os limites impostos pelo papel e possibilitar a conversa com seus leitores. Esse crescimento resultou na necessidade da edição colaborativa, pela qual múltiplos autores publicam em um mesmo blog, seja por convite, como possibilitado pelo Crooked Timber, ou aberto, como o Daily Kos que não requer moderação para aprovar o conteúdo antes da publicação.

Outro aspecto notável na evolução do blog foi o desenvolvimento, nos anos 2000, de alguns sistemas de software livre para a publicação, como o Movable Type e o WordPress.

Movable Type (2001)

O Movable Type, lançado em 2001, se tornou pago a partir da versão 3.0, lançada em 2004. A medida despertou críticas entre os usuários, que migraram para o concorrente WordPress, lançado em 2003. Com a perda de usuários, o Movable Type voltou a ser gratuito e em 2007 mudou sua licença para software livre. O Movable Type implementou, em uma de suas primeiras versões, a funcionalidade trackback, que possibilita a um editor de blog saber quando outro site publica um link para o seu blog.

 

WordPress (2003)

O WordPress possibilita a customização através da instalação de plug-ins, extensões e temas. O WordPress ampliou as possibilidades de gerenciamento de conteúdo para, além de blogs, publicar websites, sites de comércio eletrônico, entre outros tipos de conteúdo, atendendo a uma tendência de integração de diversos serviços e em um único sistema.

Duas tendências no uso de blogs são a integração com redes sociais e o uso em smartphones. O Facebook, por exemplo, possibilita que um autor instale em seu blog um plugin para comentários dos membros da rede social em cada conteúdo publicado. O uso em smartphones influenciou o desenvolvimento de uma variação do blog, o moblog (mobile + blog). Com o moblog um autor pode publicar seu conteúdo a partir de qualquer local utilizando recursos do dispositivo, como a câmera digital para a captura de imagens e publicação imediata.

Outras variações do blog foram desenvolvidas ao longo de sua evolução, como fotolog (para publicação de fotos), videolog (vídeos), audioblog e podcast (áudio) e microblog. O microblog se popularizou tanto a ponto de ser considerado um novo meio de conversação.

O microblog é um meio de conversação que possibilita a publicação de mensagens curtas de texto. O microblog adapta características do blog para uso em smartphone, que requer uma edição rápida. O microblog é usado para divulgar atividades cotidianas, dar notícias breves sobre um assunto ou buscar o que as pessoas estão comentando num determinado momento sobre um assunto. Um autor é seguido por pessoas que possuem interesse naquilo que ele escreve.

O sucesso do microblog está relacionado à facilidade de publicar, comentar e buscar mensagens curtas; satisfez uma necessidade não atendida pelos blogs (que promove a publicação de postagens elaboradas). O usuário de microblog costuma publicar diversas mensagens por dia e rapidamente obtém comentários, se aproximando mais das características dos meios síncronos.

Origens do termo microblog (2002)

O termo microblog data de postagens em 2002. O termo foi utilizado pelo blog de Natalie Solent para se referir a mensagens curtas:

“Apenas micro-blogging hoje. É dia de esporte. Oh, posso marcar um encontro com todos vocês mais ou menos nesta época do ano em 2012? Até lá meus descendentes estarão, eu acredito, todos crescidos, cheios de atividades e equipados com níveis estratosféricos de autoestima. Eu me sentirei então livre para contar algumas histórias muito engraçadas sobre a corrida com o ovo e a colher lá de 2002.”

Outra citação foi no título de uma postagem do blog Allied, em abril de 2002, como uma forma de descrever mensagens pessoais:

“Os blogs que eu gosto de ler são pessoais, retratos individuais do coração humano, blogs sobre vidas e perdas, realizações, aspirações, temores; blogueiros que abrem seus armários, esqueletos e tudo o mais.”

Mesmo o termo microblog, embora tenha aparecido em 2002, não foi o termo mais utilizado nos anos seguintes para se referir às variações de blogs com mensagens curtas. Em 12 de abril de 2005, o blog “Why the lucky stiff” fez referência ao tipo de mensagem publicada no blog Anarchaia como tumblelogs. No mesmo ano, em outubro, esse termo foi descrito por Jason Kottke como uma forma rápida de publicação.

Se no seu início o blog foi uma adaptação dos primeiros sites, o microblog em seu início também foi uma adaptação do blog. Somente em 2006 e 2007 foram lançados os primeiros sistemas especializados de microblog, como Twitter, Tumblr e Pownce, e o termo microblog passou a ser utilizado para descrevê-los. Esses sistemas foram desenvolvidos com algumas variações, porém com uma característica em comum: a possibilidade dos usuários seguirem as atualizações de conteúdo uns dos outros.

Twitter (2006)

O Twitter foi lançado em 2006 a partir da influência de meios como o blog, mensageiros instantâneos e SMS. O Twitter herdou do blog as características de publicação de conteúdo; dos mensageiros instantâneos, herdou a atualização em tempo real; e do SMS a herdou a característica de mensagens curtas enviadas por telefones celulares. A premissa do Twitter parte de oferecer uma resposta à pergunta “o que você está fazendo?”. O usuário responde informando o seu status a cada momento e todos os seus amigos ou seguidores ficam sabendo das atualizações na timeline, uma lista de mensagens organizadas em ordem cronológica a partir da mais recente. As mensagens do Twitter são limitadas em 140 caracteres. Nos anos seguintes foram incorporadas funcionalidades como replicação de mensagens (retweets), classificação de mensagens (hashtags) e rolagem infinita da timeline.

 

Tumblr e Pownce (2007)

O Tumblr foi lançado em 2007 e se diferencia do Twitter por possibilitar o compartilhamento de diversos tipos de conteúdo, como texto, citações, fotos, vídeos, links, áudio e conversa. As publicações não têm os limites de caracteres do Twitter, mas as mensagens são mais curtas do que nos blogs. No mesmo ano foi lançado o Pownce, centrado no compartilhamento de arquivos, mensagens, eventos e links com os amigos. O sistema, porém, foi vendido e descontinuado no final de 2008.

O microblog tornou-se um dos principais meios de conversação nos sistemas de redes sociais, como o Facebook, possibilitando ao usuário acompanhar as atividades cotidianas dos amigos de sua rede social. A integração em sistemas, sites e aplicativos, bem como o uso diversificado em áreas como jornalismo e educação, têm sido algumas das tendências observadas na evolução dos blogs e microblogs.

Análise da evolução do blog

Para possibilitar a conversa pelo blog, foi necessário atender a alguns objetivos específicos que direcionaram a evolução desse meio:

Publicar mensagens elaboradas para multidões sem intermediários: O blog é uma adaptação para o suporte digital de meios de comunicação impressos e voltados para a publicação, como livros, jornais, revistas e diários pessoais. Para possibilitar a elaboração das mensagens, os desenvolvedores acrescentaram funcionalidades para incluir fotos e vídeos e aperfeiçoaram as ferramentas de edição de texto. Alguns sistemas até passaram a se especializar na publicação de um tipo específico de conteúdo, gerando sub-tipos de blog, como fotologs e videologs. O blog possibilita que qualquer pessoa com interesse e acesso a um computador se torne um autor sem precisar de uma indústria editorial. Alguns autores adquiriram fama e milhões de leitores-seguidores.

Possibilitar o feedback dos leitores: Livros, revistas, jornais e outros meios de comunicação impressos não possibilitam o feedback dos leitores. Os sistemas de blogs desenvolveram formas de fornecer esse feedback para os autores das publicações. Os comentários nos primeiros sistemas de blogs eram incluídos através do uso de programas de terceiros. Com o tempo os sistemas especializados passaram a implementar os comentários como uma funcionalidade nativa. Hoje muitos sistemas de blogs como o WordPress oferecem tanto a sua funcionalidade própria para comentários como possibilitam incluir o plugin de comentários do Facebook.

Facilitar o acompanhamento das publicações: O blog é um espaço de acesso público que pertence a um autor. Nos primeiros sistemas de blog, para acessar as publicações era preciso visitar o blog. A partir do lançamento dos sistemas especializados em blog foram desenvolvidas funcionalidades para facilitar o acompanhamento das publicações a partir de outros locais, como os leitores de feeds, que possibilitam reunir, num único lugar, as postagens dos blogs seguidos pelo usuário sem precisar visitar cada blog individualmente. Para encontrar as postagens de um blog, além das ferramentas de busca, foram desenvolvidas as listas que organizam as postagens em função da data de publicação. Para facilitar a busca e a identificação da publicação, foram acrescentados dados como data e nome do autor. Para facilitar a divulgação e o retorno a uma postagem específica, foi desenvolvida a funcionalidade permalink, que consiste em um link para a postagem do blog.

Formar uma comunidade a partir das publicações de temas semelhantes: Desde as primeiras implementações de blogs, ainda sem sistemas especialistas, havia a iniciativa de formar comunidades em torno dos blogs, principalmente em função de um tema de interesse em comum. Os autores faziam listas com links para outros blogs que conheciam, funcionalidade que foi adaptada nos sistemas especialistas em edição de blogs com o nome de blogroll. Quando esses sistemas especialistas foram lançados, a intenção de formar comunidades continuou e, com a popularização, foi constituída a blogosfera, a comunidade constituída por todos os blogs.

A popularização dos blogs ocorreu com o lançamento de sistemas especializados a partir de 1999. A interatividade que os blogs proporcionam influenciou o desenvolvimento das mídias sociais, que caracterizaram uma mudança significativa no uso da web, que deixou de ser uma plataforma voltada para a busca por conteúdo, para se tornar uma plataforma voltada para a conversação e relações sociais.

Análise da evolução do microblog

Para possibilitar a conversa pelo microblog, foi necessário atender a alguns objetivos específicos que direcionaram a evolução desse meio:

Promover a publicação de mensagens curtas: O SMS, cujo limite de caracteres da mensagem é decorrente das limitações da tecnologia dos telefones celulares, influenciou o desenvolvimento do microblog. Alguns sistemas como o Twitter limitam a quantidade de caracteres, enquanto o microblog do Facebook disponibiliza uma caixa de texto de tamanho reduzido para digitação, induzindo à escrita de mensagens curtas.

Seguir as atualizações de conteúdo de um autor: Os desenvolvedores de sistemas que implementam microblog foram influenciados pela funcionalidade dos leitores de feed, presente nos blogs. Para facilitar o acompanhamento das postagens em microblog, foram desenvolvidas as funcionalidades: seguir um usuário; lista de autores e mecanismo de busca para encontrar uma pessoa que se deseja seguir; feed de notícias, que agrega as atualizações de quem o usuário segue; e notificações, que alertam sobre as atualizações dos autores favoritos.

Facilitar que uma publicação seja encontrada: O sistema de busca nem sempre é adequado para encontrar publicações sobre determinado assunto nos microblog, dada a atualização constante das mensagens. Para resolver esse problema, sistemas como Twitter e Facebook empregam as hashtags, palavras-chaves que o autor da mensagem utiliza para classificar, indexar e recuperar conteúdo.

Possibilitar o feedback das publicações: Além dos comentários, foram desenvolvidas outras formas do leitor-seguidor dar um feedback sobre cada postagem, como o botão “Curtir” do Facebook, incluir a publicação nos favoritos do Twitter, ou pontuar uma postagem em quantidade de estrelas. Estas funcionalidades também servem para indicar a visibilidade e a reputação de uma postagem.

Divulgar uma publicação de terceiros: Um dos motivos de sucesso do microblog, além da agilidade para publicar uma mensagem para vários seguidores, é a capacidade de divulgá-la para milhões de pessoas, mesmo que o autor original tenha poucos seguidores. As funcionalidades responsáveis pela divulgação viral são botões como “Compartilhar” e “Retweet”. Tanto o Twitter quanto o Facebook implementaram uma forma de chamar outros usuários para a conversa, digitando o nome deles, que vira um link e uma notificação na página do usuário cujo nome foi digitado.

Com o microblog ocorreu algo que não era possível nos demais meios de conversação: espalhar uma notícia de forma rápida para uma multidão. Antes essa capacidade era restrita aos meios de comunicação de massa, como televisão e rádio. Nos fóruns há a conversa com muitas pessoas, mas era restrita à comunidade ou grupo. No bate-papo, a mensagem fica perdida no meio da conversa, de recuperação difícil, assim como em outros meios síncronos. No email, o tempo para replicar a notícia para muitas pessoas pode ser muito longo e no blog, mesmo com a capacidade de divulgação para multidões, essa ocorre de forma mais lenta, necessitando que os leitores visitem a página do site e compartilhem a publicação. No microblog, o processo de replicação de uma notícia foi otimizado de tal forma que o usuário tem a capacidade de conversar com multidões, sem a intermediação de um canal de televisão ou emissora de rádio.

Videoconferência e Videochamada

A videoconferência é um meio de conversação síncrona em grupo pequeno com a transmissão de áudio e vídeo. Os sistemas de videoconferência são utilizados principalmente em reuniões remotas entre empresas ou equipes de uma mesma empresa, eliminando a necessidade de viagens e otimizando o tempo de trabalho.

A videochamada é um meio de conversação síncrona com transmissão de áudio e vídeo restrita a dois interlocutores.

Os sistemas populares que contribuíram com funcionalidades inovadoras que influenciaram o desenvolvimento dos sistemas contemporâneos que implementam esses meios de conversação, estão representados na linha do tempo sobre a evolução da videoconferência e da videochamada, apresentada a seguir.

O desenvolvimento da videoconferência e da videochamada realizadas através da computação está relacionado a diversos experimentos com telefonia combinada com vídeo realizados ao longo do século XX. O conceito de um telefone combinado ao uso de vídeo foi proposto poucos anos após o lançamento do telefone, no final do século XIX, sendo logo mencionado em revistas populares e de ficção científica. Durante o século XX, diversos filmes, livros e até mesmo desenhos animados mostravam formas de comunicação interpessoal por vídeo. O próprio Graham Bell, que patenteou a invenção do telefone, previu que um dia o homem poderia se comunicar por telefone visualizando a imagem do seu interlocutor. Entretanto essas ideias só puderam ser testadas após experiências que resultaram nos primeiros aparelhos de televisão, durante os anos 1920 e 1930. Mesmo assim, até os anos 1980 a transmissão era analógica.

Sistema de telefonia com vídeo do correio alemão (anos 1930)

O primeiro sistema público de telefonia com vídeo foi lançado na segunda metade dos anos 1930 pelo Correio alemão, interligando Berlim a diversas cidades, e funcionou entre 1936 e 1940. O sistema possibilitava a comunicação pessoa-a-pessoa e os usuários utilizavam televisões implantadas em cabines telefônicas públicas, conectadas por cabos coaxiais ou por rádio.

Durante os anos 1950 diversos experimentos foram realizados utilizando as linhas telefônicas convencionais para transmissão de vídeo, porém essas tentativas fracassaram devido à baixa qualidade de imagem e à falta de técnicas eficientes para compressão de vídeo. Uma das tentativas de lançamento comercial foi o produto Picturephone, apresentado pela AT&AT na Feira Mundial de Nova York, em 1964.

Picturephone (1964)

O produto despertou curiosidade, porém quando foi comercializado em 1970 seu custo de 160 dólares por mês foi considerado alto pela maior parte dos consumidores. Outro desafio era a necessidade de uma adoção em massa para justificar o uso do aparelho: para um usuário conseguir realizar uma videochamada era preciso que seu interlocutor também possuísse o videofone.

Com a percepção de que a tecnologia ainda estava distante das possibilidades de lançamento comercial, a videoconferência e a videochamada eram restritas ao uso interno pelas empresas desenvolvedoras. O potencial dessas tecnologias foi notado quando a Ericsson realizou a primeira chamada de videofone entre os dois lados do Atlântico em 1976, mesmo ano em que a Nippon realizou, internamente, a primeira videoconferência entre duas cidades, Tóquio e Osaka. Em 1982, a IBM do Japão conseguiu estabelecer conexões de 48kbps em videoconferências internas. Outras tecnologias possibilitaram avanços para os sistemas de videoconferência, como o desenvolvimento dos protocolos NVP (Network Video Protocol), em 1974, e PVP (Packet Video Protocol), em 1981.

Uma das dificuldades na transmissão de áudio e vídeo com qualidade era decorrente do uso de redes de telefonia analógicas. Somente nos anos 1980 foi possível transmitir áudio e vídeo por redes de telefonia digital integradas (ISDN) com qualidade suficiente para assegurar um sucesso comercial mínimo. Em 1982 foi lançado o primeiro sistema de videoconferência de uso comercial, o Compression Labs.

Compression Labs (1982)

Com seu custo alto, de 250 mil dólares de aquisição mais mil dólares por hora de uso, o sistema ainda estava muito além do preço acessível para consumo em grande escala e necessitava de muitos recursos tecnológicos. Mesmo assim não teve concorrentes até o lançamento do PictureTel VC em 1986, com custo de 80 mil dólares de aquisição mais 100 dólares por hora de conexão. No intervalo entre os dois lançamentos não foram lançados outros sistemas comerciais, porém foram desenvolvidos sistemas para uso interno em empresas, laboratórios de universidades e para uso militar, como o Datapoint MINX.

No final dos anos 1980, o mercado ainda não estava preparado para os sistemas de videoconferência, por isso as tentativas de lançamentos comerciais fracassaram, como o still-picturephone da Mitsubishi. Um dos motivos era a experiência frustrante dos usuários com a velocidade de transmissão: para enviar uma imagem era preciso interromper a conversa e clicar em um botão; cerca de 5 segundos depois a imagem aparecia na tela do interlocutor. Já na década de 1990 foram comercializados videofones, como o MCI da AT&T, que possibilitavam videochamadas e videoconferências em aparelhos de mesa com imagem em cores e utilizando redes de telefonia digital, contudo esses aparelhos não conseguiram o sucesso esperado, pois os custos ainda eram altos. Somente com o avanço de tecnologias como o Internet Protocol (IP) e o desenvolvimento de tecnologias mais eficientes para compressão de vídeo, os sistemas de videoconferência se tornaram mais acessíveis ao público.

O primeiro sistema de videoconferência desenvolvido para uso em PCs foi o PicTel, da IBM, lançado em 1991 com custo de 20 mil dólares na aquisição e 30 dólares por hora de ligação. Nesse mesmo ano foi desenvolvida a webcam e em 1992 o sistema CU-SeeMe.

Webcam (1991)

A webcam não foi desenvolvida para a comunicação, mas para monitorar uma máquina de fazer café. Desta forma os pesquisadores poderiam verificar na tela do computador conectado a uma webcam se havia café disponível, sem que fosse preciso ir pessoalmente fazer a verificação. O desenvolvimento da webcam foi fundamental para a evolução da videochamada e da videoconferência. A primeira webcam a ser comercializada foi a QuickCam, lançada em 1994 para Macintosh e em 1995 para o ambiente Windows.

 

CU-SeeMe (1992)

Em 1992 foi lançado, para o ambiente MacIntosh, o sistema CU-SeeMe (pronuncia-se “see you, see me”), considerado até aquele momento o melhor sistema de videoconferência já desenvolvido e o primeiro a se tornar popular. Em 1993 este sistema recebeu capacidade de acesso por múltiplos pontos (refletores) e em 1994 foi lançada a primeira versão com áudio e uma versão para o ambiente Windows.

Outras tecnologias de videoconferência do início dos anos 1990 foram o videofone da AT&AT, lançado para uso doméstico em 1992, mesmo ano da primeira transmissão de áudio e vídeo pela rede virtual MBone. Com a abertura comercial e o sucesso da internet, das webcams e de sistemas como o CU-SeeMe, ICUII e Microsoft NetMeeting, a videoconferência começou a se popularizar. O aumento do número de sistemas e do uso gerou a necessidade de desenvolver padrões e protocolos.

Padrões de compressão de vídeo e protocolos (anos 1990)

  • H.263, para reduzir largura de banda;
  • H.323 e MPEG-4, para conteúdo multimídia;
  • ITU-T H.264, para compressão de vídeo;
  • Protocolos: SIP (Session Initiation Protocol) e MGCP (Media Gateway Control Protocol).

Na medida em que foram desenvolvidos novos padrões, venda de webcams de baixo custo ou embutidas nos computadores, disponibilidade de sistemas gratuitos e evolução da qualidade de streaming com a banda larga, os sistemas de videoconferência começaram a se tornar comuns em usos como aulas interativas a distância.

Em 2003 os principais sistemas de mensageiros instantâneos, como o MSN Messenger, também ofereciam a videochamada, enquanto o Skype integrou esse meio de conversação aos seus serviços em 2005. Os sistemas baseados na web eram utilizados principalmente por jovens e adolescentes, enquanto nas empresas, que podiam arcar com custos mais elevados, passaram a ser utilizados os telefones IP, videofones de mesa com acesso à internet, em substituição aos videofones com linhas dedicadas.

A evolução da telefonia móvel também influenciou no sucesso dos sistemas de videochamada e videoconferência. Telefones móveis com suporte à comunicação por vídeo já existiam desde meados dos anos 1990, contudo somente com as redes 3G e 4G, que oferecem transmissão de banda larga, e com os smartphones e tablets, com telas maiores, qualidade de resolução, câmeras frontais e maior disponibilidade de aplicativos, os sistemas de videochamada e videoconferência se tornaram populares nesses dispositivos. Nos smartphones os sistemas de videochamada e videoconferência são acessados em qualquer local com conexão e em muito mais momentos. Dentre os sistemas mais populares para smartphones estão FaceTime, Fring e Tango, para videochamadas, e Adobe Connect, Citrix GoToMeeting, e Cisco WebEx, para videoconferências.

Outras tendências observadas a partir de meados dos anos 2000 são a convergência de serviços de videochamada e videoconferência em um mesmo sistema, como no Skype, ou como um dos serviços em redes sociais, como Hangouts no Google+ e ooVoo no Facebook.

Análise da evolução da videochamada

Para possibilitar a conversa por videochamada, foi necessário atender a alguns objetivos específicos que direcionaram a evolução desse meio:

Possibilitar a conversa por áudio e vídeo em tempo real: O conceito de conversação por vídeo já existe desde o século XIX, após o advento do telefone. Contudo, somente nos últimos anos a conversação por vídeo pôde acontecer com a qualidade desejada, em tempo real. As soluções encontradas para conferir qualidade à transmissão foram migrar da tecnologia analógica para a digital e desenvolver formas de compressão de vídeo e melhorar a qualidade de distribuição (streaming).

Possibilitar a captura da imagem de cada interlocutor: O lançamento da webcam foi o fator que impulsionou o desenvolvimento de sistemas digitais de videochamada e contribuiu para sua popularização. A videochamada foi integrada a sistemas de mensageiro instantâneo a partir dos anos 1990, exibindo a imagem do interlocutor capturada por sua webcam. Com o advento dos smartphones, os sistemas desenvolvidos para essas plataformas, como o FaceTime, utilizam a própria câmera frontal dos dispositivos para a captura da imagem do interlocutor.

Análise da evolução da videoconferência

Para possibilitar a conversa por videoconferência, foi necessário atender ao objetivo específico que direcionou a evolução desse meio:

Possibilitar a conversa por vídeo entre muitas pessoas: Na videochamada basta a transmissão entre dois interlocutores. Já para realizar a videoconferência foi preciso desenvolver a capacidade de acesso por múltiplos pontos e projetar interfaces para exibir as imagens dos participantes, destacando aquele que está falando a cada momento.

Durante décadas, o uso dos sistemas de videoconferência era restrito a empresas e outras instituições. O alto custo dos sistemas, aliado com o desempenho aquém do desejado na transmissão, adiou a popularização desse meio até a década de 2010, quando sistemas como Google Hangout, integrado a outros sistemas da Google como Google +, Gmail e YouTube, ampliaram o uso para a transmissão de conversas do público em geral. Transmissões de conversas são feitas ao vivo para um canal do YouTube e gravadas para posterior exibição no mesmo canal. Assim qualquer grupo pode se reunir e transmitir um debate para um grande público, possibilidade antes restrita a canais de televisão.

A evolução da videoconferência e da videochamada mostra que muitas vezes uma tecnologia começa a ser desenvolvida e até chega a ser lançada muitos anos antes de poder ser adotada pelo público e contar com qualidade necessária para alcançar os seus objetivos. No caso desses meios de conversação, o período entre os primeiros conceitos e a popularização ultrapassou mais de um século.

Audiochamada (conversa telefônica) e Audioconferência

A audiochamada é um meio de conversação síncrona entre dois interlocutores com transmissão de áudio.

A audioconferência é um meio de conversação síncrona em grupo pequeno com transmissão de áudio.

Os sistemas populares que contribuíram com funcionalidades inovadoras que influenciaram o desenvolvimento dos sistemas contemporâneos que implementam esses meios de conversação estão representados na linha do tempo sobre a evolução da audiochamada e da audioconferência, apresentada a seguir.

O desenvolvimento da audioconferência e da audiochamada vem dos primeiros experimentos que resultaram no telefone, na segunda metade do século XIX. A comunicação síncrona pela fala já tinha sido concebida no século XVII com os primeiros protótipos do que seria o megafone, contudo essas tecnologias não eram voltadas para a conversação.

Telefone (final do século XIX)

O desenvolvimento do telefone foi baseado no telégrafo, cujo sucesso motivou diversos inventores, políticos e engenheiros a buscar uma solução para a comunicação remota com envio de mensagens de voz. A disputa foi vencida por Graham Bell, que registrou a patente e fundou a Bell Company para explorar o uso comercial da tecnologia. A popularidade do telefone nos Estados Unidos foi impulsionada principalmente após a fundação da AT&T (American Telegraph & Telephone), que obteve as patentes e um monopólio para a expansão e exploração das redes telefônicas no país.

Durante o século XX, as redes telefônicas avançaram para possibilitar ligações entre países separados por oceanos, transmissões via satélite, conexão com a internet e a telefonia móvel e digital. Entretanto essas transmissões ainda implicam um custo para o usuário, principalmente em chamadas de longa distância.

O custo das linhas telefônicas foi o motivo principal para a popularidade das linhas telefônicas compartilhadas, um dos meios de comunicação precursores da audioconferência.

Linhas telefônicas compartilhadas (início do século XX)

Até a Segunda Guerra Mundial, a assinatura compartilhada de uma linha telefônica com os vizinhos (party line) era a principal forma de aquisição de serviços telefônicos para uso residencial, principalmente em áreas rurais. Para distinguir os assinantes, os operadores utilizavam diferentes padrões de toque para chamar cada um. Com a linha compartilhada era possível que outro assinante e até mesmo o operador da linha ouvisse e participasse das conversas dos outros assinantes da mesma linha.

Os problemas recorrentes das party lines, como baixa qualidade de som, falta de privacidade e linhas ocupadas as tornavam inviáveis para uso em empresas. Apesar de alguns avanços tecnológicos durante as décadas de 1940 e 1950, como a ligação direta que prescindia de operadores humanos, somente em 1966 foi lançada a primeira central eletrônica que possibilitava conferências por telefone.

O primeiro passo para oferecer um serviço de telefonia a distância de baixo custo, com tecnologia digital, que resultou nos sistemas que implementam a audiochamada, foi o desenvolvimento do protocolo VoIP (Voz sobre IP – Voice Over internet Protocol), em 1973.

VoIP (1973)

Seu desenvolvimento foi influenciado pela ARPANet e pela ideia de que o som poderia ser transmitido em conexões de alta velocidade via internet da mesma forma que as mensagens de email; contudo, seu uso pelo público em geral só foi possível com a popularização da internet nos anos 1990. Os primeiros sistemas a utilizarem VoIP foram o SpeakFreely, de 1991, que incluía atendedor de chamadas, criptografia e seleção de compressão, e o Internet Phone da VocalTec, de 1995, que incluía correio de voz e identificação de chamada. Sua limitação era ser restrito a chamadas para outros usuários do sistema. No início dos anos 2000, a evolução dos sistemas que implementam audiochamada prosseguiu com lançamentos de sistemas como o Vonage e o Comcast, que utilizavam um adaptador analógico de telefone conectado a um roteador de banda larga e a uma tomada de telefone.

Assim como ocorreu com a audiochamada, o VoIP propiciou uma redução de custos significativa para a audioconferência e a audiochamada, principalmente em ligações de longa distância.

Assim como a videoconferência, a audioconferência levou muitos anos para se tornar popular devido a limitações tecnológicas, como tempo excessivo para configurar o sistema, restrições do número de participantes devido ao acúmulo de ruído na conversa e identificação de quem estava falando. Para resolver esse último problema, o sistema Remote Meeting Table mostrava o nome de quem estava falando para que os demais participantes ficassem cientes de sua identidade.

O uso de sistemas de audioconferência, mesmo tendo suas limitações, começou a crescer nos anos 1980, devido à necessidade dos empregados de usar as telecomunicações para se conectar de forma remota com seu trabalho, já que desde os anos 1960 ocorreu uma migração em massa para os subúrbios, aumentando a distância entre moradia e trabalho. Com a evolução das tecnologias, a audioconferência possibilitou também que reuniões fossem realizadas entre pessoas localizadas em países diferentes, economizando custos de viagem.

Até o fim dos anos 1980 os sistemas de audioconferência eram analógicos, requerendo muitas vezes a ação de um operador. Em 1989 o uso de sistemas com redes digitais ISDN (Integrated Services Digital Network) já existia na Alemanha, possibilitando conversas entre até três participantes. Nos anos 1990, com a popularidade da web, começaram a ser desenvolvidos diversos sistemas, como o Conference Call Presenter, lançado pela British Telecom em 1997, que se aproveitaram do custo reduzido e da possibilidade de exibição de apresentações de slide shows e envio de documentos e imagens pela rede entre os participantes. Outros sistemas de audioconferência lançados nos anos 1990 foram: Internet Telephony Server, que convertia a voz em sinais comprimidos para transmissão pelo IP; OneMeeting, que possibilitava conferências com mais de seis participantes; Elemedia, que possibilitava centenas de conversas simultâneas independentes de plataforma e VocalTec Conference Server, com funcionalidades como gerenciamento dos interlocutores e usuário com privilégios.

O lançamento da banda larga nos anos 2000 melhorou a qualidade do áudio transmitido nas conferências e possibilitou a integração da audioconferência com outros serviços.

Além do VoIP, outra forma de baratear o custo das ligações foi disponibilizar programas para download rápido em qualquer computador com acesso à internet, como fizeram sistemas como Skype e Gizmo5.

Skype (2003)

O Skype, lançado em 2003, fornece suporte a diversas formas de comunicação a partir do download e instalação do programa e abertura de uma conta, que provê uma identificação pessoal e um número de telefone que pode ser acessado independente da localização do usuário, seja por um computador ou celular. Dentre os meios de conversação disponíveis neste sistema estão: audiochamada, audioconferência, videoconferência e mensageiro instantâneo.

 

Gizmo5 (2006)

O Gizmo5 foi lançado em 2006 e oferecia compatibilidade com outros operadores de VoIP, um sistema interno de gravação e acesso à comunidade LiveJournal. A partir de 2011, o Gizmo5 foi adquirido pela Google e substituído pelo Google Voice.

Análise da evolução da audiochamada

Para possibilitar a conversa por audiochamada, foi necessário atender a alguns objetivos específicos que direcionaram a evolução desse meio:

Possibilitar a conversa em áudio em tempo real: Os primeiros sistemas de telefonia analógica requeriam operadores humanos como intermediários para fazer as ligações. Com a telefonia digital foram desenvolvidas formas de converter os sinais e comprimir o áudio para transmiti-lo pelo IP (Internet Protocol).

Possibilitar a conversa em áudio com baixo custo: O custo das ligações telefônicas a distância pelos sistemas analógicos ainda é muito alto. Os sistemas digitais reduziram esse custo, principalmente a partir do protocolo VoIP, que possibilitou a audiochamada pela internet. Com sistemas como o Viber, que dispensa a operadora de telefonia, os usuários podem fazer ligações gratuitas.

Facilitar o acesso a contatos para realizar as ligações: Os telefones analógicos dificultam o acesso e a edição de listas de contatos para facilitar as ligações. É preciso usar agendas de papel como recurso adicional para lembrar dos números de telefone. Os telefones digitais, principalmente a partir dos smartphones, integram listas de contatos que podem ser importadas de outros sistemas. Ligações podem ser feitas não só diretamente pelo sistema padrão do aparelho, mas também a partir de links com números de telefones em outros sistemas.

A popularização dos sistemas de audiochamada em meio digital veio a partir do uso do protocolo VoiP em sistemas como Skype e pela evolução dos telefones celulares, que também passaram de analógicos para digitais nos anos 1990.

Análise da evolução da audioconferência

Para possibilitar a conversa por audioconferência, foi necessário atender a um objetivo específico que direcionou a evolução desse meio:

Possibilitar a conversa por áudio entre muitas pessoas: O principal problema na audioconferência é a compreensão da conversa, pelo fato de envolver muitos participantes em uma organização em fluxo, na qual as mensagens são transmitidas ao mesmo tempo. Os sistemas analógicos, como as linhas compartilhadas party line no início do século XX, resolveram o problema da distinção dos participantes utilizando padrões de toque diferentes para chamar cada assinante da linha, mas o problema de acúmulo de ruído na conversa ainda continuava. A solução veio com o sistema Meeting Table, que identificava o nome de quem está falando para os demais participantes da conversa. Com a telefonia digital e a melhoria na transmissão do áudio, os sistemas passaram a possibilitar conversas entre mais de seis participantes.

A popularização da audioconferência começou nos anos 1980, com os sistemas analógicos, que ainda requeriam em grande parte a ação de um operador. Assim como ocorreu com a audiochamada, os sistemas baseados no protocolo VoIP, o crescimento do uso dos telefones celulares e a integração da audioconferência com outros meios em um mesmo sistema contribuíram para a popularização desse meio de conversação. A tendência observada nos últimos anos, assim como a da maioria dos meios de conversação, é a integração com outros meios de conversação em redes sociais, em sistemas especializados em conversação, como Skype e Paltalk, e em websites para diversas finalidades.

 

 

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